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Mostrando postagens de julho, 2021

O Missionário é práticas alimentares.

Hoje eu quero te convidar a ir comigo a uma festa de casamento em Silves, cidade no Amazonas, em fins do século XIX. A festa em questão faz parte da narrativa do livro O Missionário, do autor Herculano Marcos Inglês de Sousa, paraense nascido em Óbidos, em 1853. Inglês de Sousa é considerado por alguns autores como o introdutor do naturalismo na literatura brasileira. Eu li o livro O Missionário ainda na graduação e sempre releio porque é maravilhoso,  impossível não gostar da genialidade dele. As descrições pormenorizadas sobre os hábitos alimentares me encantou. Silves, a cidade retratada no livro existe, e tem uma longa história. A cidade ou " " Ilha de Saracá" para os mais antigos, ou "Cidade Risonha" como é conhecido o município de Silves, no Amazonas, é marcado na essência cultural, pela forte ancestralidade indígena e históricas batalhas travadas com os portugueses". (1) Vamos ao casamento, então!? "À noite e...

Orgulho e Preconceito: práticas alimentares.

Eu realmente não poderia falar de literatura e práticas alimentares e não falar de Orgulho e preconceito, de Jane Austen, um dos meus preferidos e que tão bem retrata a sociedade, eu sempre acho os personagens de Jane muito reais pra época e fora dela também. Ou vocês não conseguem visualizar pessoas que se "parecem" com os personagens de Austen? Pois bem, Orgulho e Preconceito, um dos mais conhecidos livros da autora, tem em torno da mesa muitas de suas cenas principais. Orgulho e Preconceito ( Pride and Prejudice) é um romance, escrito em 1797, mas somente publicado pela primeira vez em 1813, a autora terminou seu livro antes de completar 21 anos, em Hampshire, local onde ela morava. O livro conta a história de Elizabeth Bennet, a sua família, a sociedade a época e seu romance com Sr. Darcy. Ele permite uma leitura atenta e muito crítica da sociedade e como ela pensava sobre educação feminina,  casamento, cultura e também como vivia a aristocracia inglesa em pl...

As comidas no casamento de Emma Bovary.

As cenas de casamento nos livros também são momentos importantes pra percebemos as práticas alimentares, os pratos em voga e a Gastronomia. Na ilustração, de Alfred de Richemont, de 1905, para a edição inglesa de Madame Bovary, foi ilustrado a cena do casamento de Emma e Charles, vale lembrar que como o casamento foi no campo e a prefeitura era distante da casa, assim, "O cortejo, a princípio unido com um só cachecol colorido, que ondulada pelos campos,  ao longo da estreita vereda, serpenteando em meio ao trigo verde, logo se dispersou e separou-se em vários grupos, que se demoravam conversando. O menestrel ia à frente, com a concha do violino enfeitada de fitas; a seguir iam os noivos, os parentes, os amigos, misturados ao acaso, e as crianças seguiam atrás, divertindo-se a arrancar as flores dos caules de aveia, ou a brincar entre elas, sem serem vistas. O vestido de Emma, muito comprido,  arrastava-se um pouco no solo;de vez em quando, ela parava para levantá-l...

Alimentação em Madame Bovary.

Vocês já devem ter observado como a literatura nos permite perceber a Gastronomia e as práticas alimentares em voga naquele espaço de tempo a que o livro faz referência? A literatura é magistral em nos apresentar sabores sejam eles vividos na memória dos personagens ou vividos na "realidade" do livro através dos almoços, jantares e as pequenas festas ou reuniões que ao longo do livro encontramos, não é mesmo!? Como nos aponta Maria Alzira Seixo: "(...)a capacidade da Literatura em representar, de modo rico e multiforme, a Alimentação, a Culinária e a Gastronomia, enquanto aspectos da vida quotidiana normalizada ou excepcional, de regiões oucosmopolita, indo da prática humana mais rasteira (no dia-a-dia de quem nem pensa sobre o que come) ao nível mais elaborado da confecção do texto como alimento supremo, do corpo ou até do espírito". (1) A Alimentação assim como parte importante da vida cotidiana torna sua presença fundamental na literatura. Nesse senti...

Documentário Casa de Farinha.

A Indicação  de hoje é o documentário "Casa de Farinha", de Geraldo Sarno, datado de 1970, um dos primeiros a retratar o trabalho e as relações com a mandioca, no sertão do Cariri:"A Farinha de mandioca alimento básico da população, o pão do sertanejo".(1) O documentário discorre sobre a importância da mandioca para muitos produtores locais, as relações estabelecidas entre os trabalhadores e os donos dos sítios onde muitas vezes se produzia a farinha, e principalmente como o fazer farinha de mandioca era uma atividade laboriosa, porém,  repleta de muitos saberes específicos. É apresentado desde a colheita da mandioca até a elaboração da farinha. Todos os passos são registrados. É um documentário com imagens belíssimas e que traduzem bem os anos 70, do século XX.   . . . Então, não deixa de assistir.  📽✍🏽 . . . 📚✍🏽 Referência. 📽(1) Documentário "Casa de Farinha" de Geraldo Sarno, ano de 1970. Disponível no Canal Cariri Antigas- Acervo. Aces...

Farinha de Mandioca e farofa em Paraíba.

Você sabia que existem relatos de consumo de farofa datados do século XIX, na Paraíba? E que a farinha de mandioca, tão versátil permite o consumo de diversas formas? Ribeyrolles, no século XIX, dizia que a farinha de mandioca era "elemento essencial da alimentação brasileira, como o trigo na Europa. (1) E o era sim, a farinha de mandioca era de consumo diário e muito necessário. Na Paraíba, ano de 1638, século XVII, Gaspar Barléu falava que "Das raízes desta fabricam uma farinha, que lhes serve de trigo e de pão". (2) E aqui chamo a atenção para as constantes referências sobre a mandioca relacionada ou descrita com a importância que o trigo assumia na Europa. Outros viajantes costumavam dizer que a farinha de mandioca era o "trigo" brasileiro, essa fala ocorria justamente pela presença diária da farinha de mandioca nas casas dos brasileiros. Não há dúvidas quanto à isso. A farinha de mandioca permitia ainda que dela fosse feito outros pratos e cons...

Farinha de mandioca em Pernambuco.

Em Pernambuco,  o consumo de farinha de mandioca era cotidiano e muito comum no século XIX, Louis Tollenare, dizia sobre o Recife, no ano de 1816 que: " A mandioca é uma espécie  de euforbeácea (...).Sabe-se que está raiz comida sem preparação é um veneno violento (...) A preparação consiste em raspar a pele negra das raízes (...) Por meio de um ralador circular desfaz-se a polpa (...) em seguida é colocada sob uma prensa que expele o suco venenoso que acompanha a substância salubre e está é posta a secar ao fogo; a polpa, assim purifica a seca, fica reduzida a uma farinha grosseira. É ingerida crua ou cozida. Dizem que também é usada para fazer pão; aqui só tenho visto crua ou cozida". (1) O relato nos permite visualizar o consumo de farinha de mandioca, em Recife, ainda na primeira metade do século XIX. Em 1821, cinco anos após o relato de Tollenare, Maria Graham, nos conta sobre sua passagem pelo Recife que nos mercados haviam: "(...) bolos de mandioca coz...

Farinha de mandioca no Ceará.

Eu sou apaixonada pelo romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, sempre esteve nos meus planos conhecer o "Não me Deixes", sítio de Rachel em Quixada e que tanto fez parte da vida da autora. A Cozinha do "Não me deixes" permeia a minha imaginação. Essa visita está no meu roteiro de viagens pelo Nordeste junto com Quixada. O Quinze fala muito de um Nordeste que sofria com a seca no ano de 1915, o livro, um dos mais populares de Rachel, possibilita visualizar muito das práticas alimentares da região. O nome do livro faz referência a seca de 1915, a qual Rachel vivênciou em sua infância. A primeira edição data de 1930. Pois bem, nestas práticas alimentares está justamente o consumo da farinha de mandioca e a existência das Casas de Farinha também. Lembremos da narrativa de Rachel quando nos diz sobre a familia do Vaqueiro Chico Bento que:"Na primeira noite, arrancharam-se numa tapera que apareceu junto da estrada, como um pouso que uma alma caridosa houv...

A farinha de mandioca.

A farinha sempre foi elemento essencial na vida, no cotidiano e na economia de quem vivia ao longo do estuário amazônico. Jaques Flores, escritor modernista, pseudônimo de Luís Teixeira Gomes em crônica intitulada Cenas e Aspectos da Amazônia, no livro Panela de Barro, publicado pela primeira vez em 1947, nos falava sobre povoação de Caraparú e a importância da mandioca como elemento básico da economia. Segundo Flores, Caraparú era "Povoação saudável e pitoresca,  possuindo  apenas umas quarenta casas, tôdas cobertas  de têlhas e assolhadas; os seus habitantes, que não vão a quinhentos (em todo o distrito vivem para mais de três mil almas se dedicam quase exclusivamente ao fabrico de farinha de mandioca". E ainda, "Branca, sempre nova e torrada a farinha de Caraparú tem especial preferência nos pontos de venda da capital do Estado,  onde é comprada por alto preço. Três são as marcas mais conhecidas: "Tomé", "Cacáu" e "Rosa do Adro...

Farinha de mandioca.

A farinha de mandioca compunha a alimentação básica das populações na Amazônia. Desde o século XVI, já é possível encontrar relatos da importância da farinha. Ambrósio Fernandes Brandão, no século XVI, já descrevia a farinha como "um excelente  mantimento" ele ainda descreve a maneira como se fabricava a farinha: "(...) se tira aquela raiz de baixo da terra, que é da grossura de um braço,  e às vezes mais comprida, a qual,  depois de limpada casca de fora, a ralam em uma roda que pera isso têm feita, forrados os seus extremos de cobre, a modo de ralo, e depois lhe expremem todos o sumo muito bem em uma prensa, que pera o efeito se faz; e assim como tiram a mandioca da prensa, vão pondo de parte feita em umas bolas, das quais a desfazem pera a comerem em uns fornos, que pera isso se lavram de barro, a modo de tachas, com fogo brando, é deste modo fica feita a farinha". (1) Ainda no século XVII, o frade "Claude D‟Abbeville observou quando de sua viage...

Bolo Lamington.

Domingo com receita Histórica? Temos sim! O vídeo lá no canal desta semana conta a história do Bolo Lamington.  O típico bolo Australiano, cuja origem permeiam ao menos três versões. Sua origem datada ainda em fins do século XIX e início do século XX, traz em seu nome, uma referência ao Lord Lamington,  governador do estado do Queensland em 1896.  O bolo elaborado com pão de ló, calda de chocolate e muito coco ralado é delicioso e uma excelente opção para aquele lanche de férias. James Winter nos dizia que: "Há muitos pratos exóticos por aí em nossa cozinha cosmopolita moderna, mas o Lamington nos leva de volta a uma época gastronômica simples. A Austrália percorreu um.longo caminho em sua breve história,  mas algumas coisas não mudaram, e uma delas é o Lamington". (1) O bolo é uma delícia. A história é a receita estão lá no canal do YouTube. Link  YouTube . . . 💬 E você? Já provou o bolo Lamington? Já fez? Me conta!!! . . . 📚✍🏽 Referê...

Viagens de Trem, restaurantes e comidinhas.

Mas, você sabia que antes dos transatlânticos, as viagens de trem foram importantes locais de comer durante as férias? Isso porque como nos aponta Corbin: "A revolução dos transportes determina uma nova prática do espaço."(1) E portanto, das férias. E ainda, "O caminho do ferro foi o mais poderoso instrumento de transformação social do século XIX, o seu aparecimento revolucionou incontestavelmente o uso do tempo livre. Ligado às outras inovações que revolucionaram os transportes, esteve na origem da ideia de que as férias, enquanto instituição social, implicavam partir para uma longa viagem". (2) Com a ferrovia era possível ter o conforto e a praticidade dos restaurantes 'sobre rodas'. Os Estados Unidos são pioneiros nesse investimento e como nos aponta Shore: "Duas novidades surgidas entre 1868 e 1872 representaram avanço decisivo no fornecimento de algo mais do que simples refeições nas longas e recém-construidas rotas ferroviárias que cr...

Menus do Titanic.

Vocês lembram que no filme Titanic o comandante e passageiros sempre estavam atentos ao número de milhas percorridos por dia? Não poderíamos falar de transatlânticos sem falar do Titanic não é verdade? A preocupação com as milhas não era apenas fictícia, na verdade era muito comum a época, os transatlânticos buscam na velocidade atrair mais passageiros. Corbin nos aponta que desde meados do século XIX, "A bordo, os passageiros  fazem uma rápida aprendizagem das velocidades. Todos os dias são feitas apostas sobre o número de milhas percorridas desde a véspera." (1) Em parte "pela impaciência dos passageiros cansados de mar poucas horas após a partida." Era necessário que os transatlânticos fossem rápidos e acima de tudo tivessem regularidade entre saídas e chegadas. Ou seja, hora exata para sair e chegar. Por isso também, era necessário ocupar as horas vagas dos passageiro...

Férias, transatlânticos e comidinhas.

As férias possibilitaram novos tempos livres e com eles novos lugares e formas de comer. Um tempo que o trabalhador poderia ter para ele, o que Corbin aponta como "a via para uma certa felicidade". Com as férias "glamour, fashion e play tendem a resumir os prazeres da ociosidade". (1) Nesse contexto, as férias passam a ser associadas a uma "longa viagem. A viagem tornou-se parte integrante- talvez mesmo a própria essência- das férias". Os iates e paquetes são os primeiros a ganharem tal importância, eram luxuosos e tinham cardápios e menus que representassem seus passageiros. Os paquetes luxuosos criaram uma nova forma de descobrir o mundo, o paquete "é o cenário de um jogo complexo entre a relação social, a mundaneidade, a gala e a disponibilidade do tempo simbolizados na cabine e na 'transatlânticos (cadeira de convés), como sendo tudo o que, no navio...

Férias e Alimentação.

Mas, afinal o que são férias? Qual a relação dela com o mundo da alimentação? Bem, a sociedade moderna ansiou por muito tempo por um "tempo livre " que chamamos de férias, especialmente a classe trabalhadora. Os excessos de exploração do trabalhador, a falta de leis levam ao entendimento de um tempo livre, que pudesse ser "ocupado" por lazer e diversão. Essa busca por férias, passa a ser ponto de discussão importante a partir de meados do século XIX. Segundo Alain Corbin, num livro clássico, que eu amo demais, A História dos Tempos Livres, nos diz que: " As férias delinearam um novo tempo social". E nesse sentido, "O tempo das férias, na medida em que a massificação das práticas o foi inscrevendo cada vez mais nitidamente em oposição ao tempo de trabalho, tornou-se o da felicidade esperada e, de certo modo, alcançada".(1) O tempo de férias é o tempo desejado de todo trabalhador, é um tempo livre que como nos mostra Corbin é fundamenta...

Bolos e férias.

Bolo para o Café da manhã? Super combina com férias, com crianças em casa e quem não ama um bolo? No café da manhã,  na merenda, na sobremesa...Enfim, muitas são as opções para se deliciar  com um bolo, não é verdade!? Impossível olhar para a pintura de Wayne Thiebaud, intitulada "Bolos" e não querer um pedacinho, não? Segundo Maria Lúcia Gomensoso, o Bolo "é uma mistura de farinha de qualquer tipo (trigo, milho, etc), gordura, açúcar  e ovos, assada no forno. Há  diversas técnicas diferentes para se preparar a massa do bolo: bater em creme, misturá-la com as mãos, batê-la em banho-maria, envolver os ingredientes sólidos (geralmente frutas cristalizadas) em farinha para que não pesem e afundem."(1) O bolo é tão simbólico no Brasil que existem até locuções populares sobre ele, Souto Maior, nos permite conhecer algumas delas...quem nunca ouviu a expressão Dar o bolo? Que significa: "faltar ao compromisso" ou ainda, "Partir o bolo do céu: me...

Piquenique.

Vamos dar vivas ao mês de julho, conhecido e reconhecido no Pará,  pelo mês das férias, de muita diversão. É um mês ideal para piqueniques regados a muitas gostosuras, jogos e brincadeiras ao ar livre. E férias combina com diversão e muitos petits fours, não é verdade? A palavra piquenique é originária do francês, no século XVIII, depois a para ganha a versão em inglês picnic. (1)A tela do pintor francês James Tissot,  retrata um grupo de pessoas em um picnic em torno do lago do jardim do pintor em pleno outono. É uma das cenas mais realistas que conheço de um Piquenique, temos a leve impressão que estamos lá, nos jardins dos fundos do pintor. Inicialmente denominda de Holyday, a tela passou a ser chamada também de The Picnic, pintada 1876, no centro de toda cena temos a toalha do piquenique e as comidinhas, um bolo inglês? Chá,  café? Frutas e pães. Machado de Assis dizia que: "O piquenique é a tríplice fusão das algibeiras, dos estômagos e dos corações." O...

Bruxas, Feiticeiras, poções e alimentos.

Você sabe o porquê da relação entre mulheres, feitiçaria e bruxaria? E que o entendimento na Idade Média de bruxa e feiticeira eram diferentes? E qual a relação com os alimentos?Bem, existem muitos trabalhos na historiografia que analisam a "caça às bruxas" acontecido na época Medieval. E várias análises que discutem o caráter destas condenações. Segundo Paulo Filho, "a mulher é a grande protagonista dos autos inquisitoriais da Igreja e dos tratados demonológicos".(1) E ainda, "Neste sentido, podemos afirmar que as bulas papais e os inúmeros tratados demonológicos medievais lançados no frenesi de caça às bruxas foram fundamentais para centralizar, organizar e reforçar métodos políticos e ideológicos que pautaram a perseguição sofrida pelas mulheres acusadas de bruxaria". (2) Mas, o que era entendido por ser uma bruxa ou feiticeira? Bem, primeiramente, existem diferenças entre uma e outra. Segundo Laura de Mello e Souza, as bruxas ...