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Mostrando postagens de agosto, 2021

Cultivo do arroz negro.

O cultivo e consumo do arroz é tão importante que compunha parte da identidade cultural de vários povos da África Ocidental. Segundo Carney "Hoje, em muitas partes da África Ocidental, uma refeição não é considerada uma refeição completa se não for servido arroz". E ainda, "Este cereal figura de modo proeminente nas tradições e em rituais culturais, e a sua "pilagem" para consumo marca mesmo a passagem do tempo, pois o batimento rítmico do pilão contra o almofariz repleto de grãos de arroz anuncia o início de um novo dia em inúmeras aldeias da região". (1) O "batimento rítmico do pilão contra o almofariz serve como um anúncio de um novo dia. Além do mas, o arroz é seu cultivo requerem saber, labuta e um "sistema de conhecimentos que representa engenhosidade bem como uma enorme labuta".(2) É muito importante observar também que a labuta em torno do arroz é em grande medida um trabalho feminino. Em relatos, imagens e pinturas as mu...

Arroz Negro.

Você sabia que a Costa da Alta Guiné era chamada pelos marinheiros europeus de Costa dos Grãos, ou Costa do Arroz? Como nos conta Carney "(...) devido à sua especialização na produção de cereais".(1) A autora também enfatiza que "a disponibilidade generalizada de cereais foi resultado  do nível sofisticado que a agricultura autóctone já tinha atingido em África no início da era moderna". (2) Aliás, é importante dizer que a domesticação do Oryza glaberrima ou arroz africano data de mais de três mil anos atrás na região do Senegal à Costa do Marfim. Ou seja, é uma produção que tem protagonismo de sociedades africanas e não foi introduzido por portugueses. Carney nos aponta ainda que: " As sociedades da Costa da Alta Guiné tinham um abundante e variado abastecimento alimentar". (3) Por isso, a autora é enfática ao afirmar que " na história da cultura e da disseminação do arroz (...)" o protagonismo deve ser "ao oeste-a...

Glossário Paraense: Arubé.

Vamos de Glossário Paraense? Hoje vamos falar um pouquinho do Arubé. Segundo Vicente Chermont, o arubé  era feito com massa de mandioca mole com pimenta e alho.(1) Seu uso está atrelado ainda ao consumo dos derivados da mandioca. Essa relação de usos e formas eu discuto em minha tese de doutorado. "O uso da farinha e dos seus derivados, como já evidenciamos, é verdade que ocorreu em todo o território nacional, mas, em alguns lugares, como a Amazônia, esse  uso se manteve em grau de importância e cotidianidade ao que era consumido nos séculos anteriores. Da mesma forma que a existência de receitas espalhadas ao longo do Brasil que utilizam os derivados da mandioca, como nos informa Serna, é a confirmação de que a mandioca foi de ampla utilidade". (2) Mário Monteiro, nos esclarece ainda que o "Arubé (conduto) Espécie de creme (assim chamado) feito do sumo da mandioca exposta ao sol (isto se chama arumé), engrossado com a fécula e temperado com tucupi. Resulta...

Kintsugi e a arte do imperfeito.

Esse açucareiro sempre foi uma peça que literalmente foi amor a primeira vista. Eu cheguei numa loja que hoje em dia não existe mais e ele estava num cantinho meio que esquecido. Quando eu vi achei tão lindo e especial que trouxe pra casa. Passou um tempo e ele quebrou na alça. Eu fiquei muito pesarosa. Era uma das minhas peças preferidas. Eu guardei. Daí, conheci a técnica japonesa Kintsugi e foi a salvação do meu açucareiro. Isso porque nós temos uma "tradição" que diz que não devemos guardar coisas que quebram am casa, então, desde pequena fui acostumada que quando quebra você joga fora. Mas, o que é a técnica japonesa Kintsugi? " Kintsugi ou”emenda de ouro”, também conhecido como  Kintsukuroi  (...)  é a arte japonesa de reparar uma cerâmica quebrada com laca espanada ou misturada com póde ouro, prata ou platina, um método semelhante à técnica maki-e".(1) A técnica milenar japones...

Cinema, aspirinas e urubus.

Eu escolhi a cena do almoço de Johann e Ranulpho com um prato farto de feijão, arroz, carne, cuscuz acompanhados de uma Caxibrema. Pra te dizer que esse filme é excelente.  O domingo com cinema de hoje faz indicação do filme Cinema, aspirinas e urubus, com direção de Marcelo Gomes, do ano de 2005.  Segundo sinopse do site @adorocinema, o filme que se passa no ano de 1942, "no meio do sertão nordestino, dois homens vindos de mundos diferentes se encontram. Um deles é Johann (Peter Ketnath), alemão fugido da 2ª Guerra Mundial, que dirige um caminhão e vende aspirinas pelo interior do país. O outro é Ranulpho (João Miguel), um homem simples que sempre viveu no sertão e que, após ganhar uma carona de Johann, passa a trabalhar para ele como ajudante. Viajando de povoado em povoado, a dupla exibe filmes promocionais sobre o remédio "milagroso" para pessoas que jamais tiveram a oportunidade de ir ao cinema. Aos poucos surge entre eles uma forte amizade". (1) ...

Qual a História? Panela de Pressão.

Hoje vamos passear pela História dos utensílios de cozinha? Inaugurando um espaço novo aqui no daquiloquesecome, o "Qual a História?". Neste espaço vamos falar sobre a História dos utensílios de cozinha. Bacana não é!? ✍🏽⏳ Hoje vamos falar sobre um utensílio que é o amor e "pavor" de muitos... Eu adoro fazer comidinhas nela... Ela é prática e me ajuda muito quando o tempo é pouco... Então,  você já sabe sobre o quê é? R. A panela de pressão... tchii.. tchii.. tchii... Você sabia que a panela de pressão foi inventada no século XVIII, mas apenas na década de 70, do século XX se tornou popular? A panela de pressão foi criada por Denis Papin, por volta de 1679, segundo Sitwell Papin: "construiu um objeto de ferro fundido com tampa bem rosqueada. Depois, posicionou-o sobre brasas e começou os experimentos." (1) Papin realizou sua experiência com um aparelho cujo "O princípio do dispositivo era simples: aquecida em alta pressão,  a águ...

Arroz africano.

Nós estamos habituados a falar de arroz numa perspectiva de Ásia e Europa. Mas, você sabia que povos africanos são grandes cultivadores de arroz? E que a domesticação e o desenvolvimento de técnicas são ancestrais? Precisamos falar do protagonismo de povos africanos no cultivo do arroz, como nos aponta Judith A. Carney, o "arroz negro" e uma História muito importante e que precisa ser falada. Nesse sentido, o trabalho de Judith A. Carney é realmente único e maravilhoso. Assim, "A interpretação comum da história do arroz nas Américas atribui aos europeus a adaptação engenhosa de uma planta de origem asiática às condições do Novo Mundo. Este modo de ver não considera o papel dos africanos no estabelecimento, sob a escravatura, do seu alimento básico preferido". (1) E assim, "Os sistemas alimentares africanos, que são a base da civilização, também foram ignorados".(2) Os povos da África Ocidental não apenas domesticaram e cultivavam o arroz de f...

Glossário Paraense: Caribé.

Em CROMO XXV, Jaques Flores nos conta: " É uma choça de palha de inajá, De onde se avista, perto, o igarapé. Nela, sempre, se bebe tacacá, E, manhãzinha, é certo, o caribé.(1) Além do Tacacá, ele fala em caribé. Mas, você sabe o que é o caribé? Segundo Chermont de Miranda:" Caribê, s.m. ‐-‐ Mingau de Fina farinha seca. (2) Já Mauro Sobral nos diz que: "Caribé - É um mingau feito de farinha d'água que é tido como de muita sustança". (3) Raimundo Morais por sua vez, nos diz que: "Caribé- Mingau sem sal, ralo, de Farinha-d'água. É muito usado nas convalescenças do caboclo quando em dieta. Dezinho um caribê pra ele levantar sustância. Ele está morrendo É de fraqueza". (4) Aqui sempre se recorre ao caribé pra ter "forças". Para algumas pessoas é dieta diária e importante que pode ser tomado no café da manhã,  como apontava Jaques Flores.  . . . 💬 E você? Gosta de caribé? Toma? Me conta!!! . . . 📚✍🏽 Referências. (1) ...

Uma babá quase perfeita.

A indicação de filme de hoje tem tudo haver com a data especial de hoje: Dia dos pais: "Uma Babá Quase Perfeita". Um clássico dos anos 90, acho difícil encontrar alguém que não tenha assistido uma vez na vida, tem cenas memoráveis e muito engraçadas em torno da cozinha. Eu assisti no antigo Cine Palácio, localizado no térreo do Edifício Palácio do Rádio,  na Presidente Vargas, alguém lembra dele? Então,  vamos a sinopse feita pelo site adorocinema: "Daniel Hillard (Robin Williams) está passando por uma fase complicada, acaba de se separar de Miranda (Sally Field) e perdeu o seu emprego. Impedido pela ex-esposa de passar mais tempo com os filhos, ele tem uma idéia inusitada para recuperar a relação com as crianças. Daniel veste-se como uma senhora idosa escocesa e tenta conseguir o cargo de babá no seu antigo lar". (1) É a história de um pai que busca no improvável ter mais tempo com seus filhos. O filme conta ainda com a brilhante atuação de Robin Will...

Eneida de Moraes e práticas alimentares.

Eu conheci Eneida de Moraes ainda ano colégio, quando aluna do Colégio do Carmo, lá na Cidade Velha, no Ensino Médio. Tínhamos uma professora maravilhosa de literatura, a Auxiliadora,  nós a chamávamos de Auxi. Quando me recordo desta época penso na imensidão que nos tornamos em estarmos do lado dos bons " é junto dos bão que a gente fica mió” não é!? Auxiliadora, foi quem me apresentou Eneida de Moraes, em um texto sobre a época que ela esteve presa política e sobre suas companheiras. Eu lembro que passei longos dias pensando no destino daquelas mulheres. Nunca mais esqueci de Eneida. Nunca esqueci daquelas "Vinte e cinco mulheres prêsas políticas numa sala (...) Vinte e cinco mulheres, vinte e cinco camas, vinte e cinco milhões de problemas". (1) Nunca me esqueci também da professora que nos ensinava sobre literatura, mas, também sobre memórias, política e História, essa última com H bem maiúscula mesmo. Nunca me esqueci das aulas da Auxiliadora...

Práticas alimentares em Jaques Flores.

Os hábitos alimentares do Norte, também tornaram-se Poesia nas mãos do escritorJaques Flores, as práticas alimentares sempre permearam a obra de Flores, pseudônimo de Luiz Teixeira Gomes, descrevendo os costumes e cenas da vida amazônica. Em outro texto eu dizia que: " Poeta e cronista, Jacques Flores escrevendo com uma determinada sátira, regada por certo humorismo sagaz o cotidiano, foi também narrador que buscava através da leitura de seu tempo e espaço “relatar” a gente amazônica nos seus pormenores"(1) Os sonetos eram seus preferidos. Jaques Flores, escreveu dois livros de poesias: Berimbau e Gaita, em 1925 e Cuia Pitinga, de 1936. Em CROMO XXV ele nos conta: " É uma choça de palha de inajá, De onde se avista, perto, o igarapé. Nela, sempre, se bebe tacacá, E, manhãzinha, é certo, o caribé. Beiju, batata doce, mel, cará, Tudo se come na hora do café. Às vezes, peixe assado também há, Com pimenta, limão e com chibé. Depois do almoço, a cuia de aç...

Glossário Paraense.

"Alfredo foi à cozinha ver Eutanázio tomar um chibé. Não quis jantar". (1) Através de Dalcídio Jurandir inauguramos um espaço importante no @daquiloquesecome: o "Glossário da Alimentação Paraense". Isso mesmo, através dele vamos conhecer um pouquinho mais sobre os termos e nomes da cozinha no Pará, já que a alimentação nos permite uma linguagem própria e repleta de significados históricos e culturais. Hoje vamos conhecer um pouquinho mais sobre a palavra Chibé. S obre o xibé ou chibé, José Verissímo nos diz que: “ Xibé, bebida preparada com farinha e água. É o que no Sul chamam jacuba (termo africano). De tibé, caldo. Esta corrupção do t em x não me parece natural. Julgo antes que xibé seja a corrupção de Xe-tibé, o meu caldo, a minha bebida". Para Veríssimo, essa mudança na língua dava-se uma vez que quando perguntavam aos grupos indígenas que faziam uso desse alimento:"que liquido era aquelle que tinha na cuia, elle respondia Xe-ribé ( amud...

Cultura alimentar em Chove nos Campos de Cachoeira.

Chove nos Campos de Cachoeira é o primeiro romance de Dalcídio Jurandir. Através dele o autor nos mostra a vida no Extremo-Norte do país. Publicado pela primeira vez em 1941 após vencer o concurso literário "Vecchi-Dom Casmurro" de 1940. Jurandir é magistral em descrever costumes, hábitos alimentares, a sociedade e os pormenores da paisagem e cultura do povo amazônico. Eu sinceramente penso que todo "filho" desta terra deva ler um livro de Dalcídio Jurandir em algum momento, acho até que seja leitura obrigatória! Aos meus leitores que são de outras regiões desse Brasil tão rico eu sugiro a leitura dos livros de Dalcídio que são uma riqueza a parte e permitem um olhar tão aguçado, real e rico do que ele próprio chamava de "Extemo-Norte". Edson Pantoja nos diz que: "Gestado e escrito entre 1929 e 1939, período situado entre as duas guerras mundiais, o romance apresenta ao país, num contexto literário nacional marcado pela expressão das regio...