Pular para o conteúdo principal

Práticas alimentares em Jaques Flores.

Os hábitos alimentares do Norte, também tornaram-se Poesia nas mãos do escritorJaques Flores, as práticas alimentares sempre permearam a obra de Flores, pseudônimo de Luiz Teixeira Gomes, descrevendo os costumes e cenas da vida amazônica. Em outro texto eu dizia que: "Poeta e cronista, Jacques Flores escrevendo com uma determinada sátira, regada por certo humorismo sagaz o cotidiano, foi também narrador que buscava através da leitura de seu tempo e espaço “relatar” a gente amazônica nos seus pormenores"(1)Os sonetos eram seus preferidos. Jaques Flores, escreveu dois livros de poesias: Berimbau e Gaita, em 1925 e Cuia Pitinga, de 1936. Em CROMO XXV ele nos conta:
" É uma choça de palha de inajá,
De onde se avista, perto, o igarapé.
Nela, sempre, se bebe tacacá,
E, manhãzinha, é certo, o caribé.
Beiju, batata doce, mel, cará,
Tudo se come na hora do café.
Às vezes, peixe assado também há,
Com pimenta, limão e com chibé.
Depois do almoço, a cuia de açaí.
No copiá a rede de cipó,
Onde me deixo com o pensar em ti...
Camisa aberta, mostro o peito nu.
Feliz, ali, nada aflige. Só
Acho que alguém falta. Alguém que és tu".(2) Na poesia, é inconfundível a comida que grupos indígenas tinham por hábitos cotidianos, como o consumo diário do Tacacá, peixe com pimenta e açaí. Isso tudo compunha a figura do homem amazônico descrito por Jaques Flores. Aliás, em outro livro, Jacques Flores faz:  "uma crônica sobre o peixe frito como um alimento típico (...)da nossa região,
mas, sobretudo, das camadas populares de Belém, nos lembrando que nada mais saboroso do que um peixe frito acompanhado de farinha d´água e molho de pimenta e limão".(3) Jaques Flores era um escritor sobre as gentes da Amazônia. E como falar destas gentes sem falar de seus hábitos alimentares? Segundo sua filha, Maria Leonor Gomes Cavaleiro de Macedo, o pai "Muitas vezes o vi, chapelão de palha na cabeça escondendo a testa ampla, observando o trabalho dos caboclos faladores que enchiam as igarités com cestos de bananas, mangas, cachos de açaí, papagaios tagarelas, araras multicolores...rodeado de toda essa multiforme e brilhante reunião de falas, vozes, odores, tipos, costumes, paisagens típicas de nossa região que ele, depois, transcrevia para seus contos e suas crônicas". (4) Ler Jaques Flores é ter uma imagem real e tão completa dos costumes e dos hábitos alimentares tidos como típicos do Pará. Na imagem,  um modelo de  "choça " de palha, na década de 1950, em Maracanã,  no Pará. A choça tão comum a região virou o cenário descrito por ele em CROMO XXV. 
.
.
.
💬 E quem depois de um peixe assado, pimenta, limão, chibé e uma cuia de açaí não procura uma "rede de cipó"?
.
.
.
📚✍🏽 Referências.
📸 Título: Preparação de palha para cobrir as casas em Maracanã (PA), ID: 8878.
Autor: Dias, Catharina Vergolino,  Mazzola, Rubens Moreno; Valverde, Orlando; Ano: déc. 50; Habitações; Maracanã (PA); Palha; Pará. In: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=48878 🔖 Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar. (1) (3) Sidiana da Consolação Ferreira de MACEDO. A comida e a construção de uma identidade regional:Uma leitura de Jaques Flores a partir da história da alimentação. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP), (ISSN: 2359-0831 - on line), Belém, v. 07, Dossiê “História da alimentação e do abastecimento na Amazônia”, p. 73 - 90, maio / 2020. p.79; 87.
(2)(4) Flores, Jaques. Obras escolhidas de Jaques Flores. Seleção de Textos por Ana Diniz. Belém:Cejup, 1993, p. 8; 49. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A bolacha preta.

Bom Dia! Em fins da década de 80, fazíamos as famosas viagens de carro, no meu caso era de caçamba mesmo,  meu pai que é do Rio Grande do Norte, levava toda a família pra visitar a família dele e íamos felizes daqui do extremo Norte para o Nordeste. Lembro que nas viagens, em especial, na volta mamãe trazia uma boa reserva de Bolacha Preta, que eu vinha degustando e que tanto adoçavam minha viagem e meu paladar. Eram dias muito felizes e saborosos! Na última viagem que minha mãe fez, eu pedi que me trouxesse a dita bolacha, queria matar a saudade gustativa. A sorda é um popular e tradicional biscoito originário do nordeste brasileiro. Feito de uma massa composta de trigo, mel de rapadura e especiarias, tais como cravo, canela e gengibre. É fabricado artesanalmente ou industrializado por fábricas panificadoras em quase todos os estados do nordeste brasileiro, sendo muito consumido na área do sertão. Conhecido também em algumas localidades por bolacha preta, vaca pr...

É CARNAVAL.

Na pintura de Debret temos uma imagem do Carnaval  ou como era chamado no século XIX, de Dia d'entrudo. O dia d'entrudo que começava no domingo e seguia-se nos três dias gordos, era dia de festa em que os brincantes se jogavam "limões "cheios de água perfumada. A cena se passava no Rio de Janeiro, no ano de 1823. Segundo Debret: " O carnaval no Rio e em todas as províncias do Brasil não lembra, em geral, nem os bailes nem os cordões barulhentos de mascarados que, na Europa, comparecem a pé ou de carro nas ruas mais frequentadas, nem as corridas de cavalos xucros, tão comuns na Itália. Os únicos preparativos do carnaval brasileiro consistem na fabricação dos limões-de-cheiro, atividade que ocupa toda a família do pequeno capitalista, da viúva pobre, da negra livre que se reúne a duas ou três amigas, e finalmente das negras das casas ricas, e todas, com dois meses de antecedência e à força de economias, procuram constituir sua provisão de cera. O limão-...

Quadrados Paulista.

Olá, leitores! Essa receita é daquelas que é sensacional, veja bem: eu coloquei dois conceitos no meu livro um M/ DE MARAVILHOSO E UM E/excelente de tão boa que é!Façam, hoje mesmo :) sem palavras para descrever a tal gostosura. Quando fiz e provei essa receita, entendi que o livro Dona Benta tem raridades únicas e me questionei como aquela blogueira fazia duras críticas ao livro? Por que a minha experiência com ele a cada receita tem me deixado mais maravilhada, só posso pensar que a pessoa não deva entender muito da grandiosidade que é um livro que por gerações vem fazendo parte da cozinha de tantas pessoas...Enfim, vamos a receita: Quadrados Paulistas: p. 829. Ingredientes: Massa: 1 xícara chá de manteiga. 2 xícaras chá de açúcar. 2 xícaras chá de trigo. 1 colher de chá de fermento. 1/2 xícara de leite. 4 ovos separados. Glacê: Açúcar. Água ou sumo de laranja. Modo de Fazer: passo-a-passo:  Bata a manteiga com o açúcar, junte as gemas,...