Pular para o conteúdo principal

Kintsugi e a arte do imperfeito.


Esse açucareiro sempre foi uma peça que literalmente foi amor a primeira vista. Eu cheguei numa loja que hoje em dia não existe mais e ele estava num cantinho meio que esquecido. Quando eu vi achei tão lindo e especial que trouxe pra casa. Passou um tempo e ele quebrou na alça. Eu fiquei muito pesarosa. Era uma das minhas peças preferidas. Eu guardei. Daí, conheci a técnica japonesa Kintsugi e foi a salvação do meu açucareiro. Isso porque nós temos uma "tradição" que diz que não devemos guardar coisas que quebram am casa, então, desde pequena fui acostumada que quando quebra você joga fora. Mas, o que é a técnica japonesa Kintsugi? "Kintsugi ou”emenda de ouro”, também conhecido como Kintsukuroi (...) é a arte japonesa de reparar uma cerâmica quebrada com laca espanada ou misturada com póde ouro, prata ou platina, um método semelhante à técnica maki-e".(1) A técnica milenar japonesa que consiste em reparar peças de cerâmica quebradas numa filosofia de vida que entende que a cerâmica tem suas "cicatrizes". Segundo Marta Rebón, " Há cinco séculos, surgiu no Extremo Oriente o kintsugi, uma apreciada técnica artesanal com o objetivo de reparar uma tigela de cerâmica quebrada. Seu proprietário, o xogum Ashikaga Yoshimasa, muito apegado a esse objeto indispensável para a cerimônia do chá, mandou consertá-lo na China, onde se limitaram a fixá-lo com alguns grampos toscos. Insatisfeito com o resultado, o senhor feudal recorreu aos artesãos de seu país, que propuseram finalmente uma solução atrativa e duradoura. Encaixando e unindo os fragmentos com um verniz polvilhado com ouro, eles restauraram a forma original da cerâmica, embora as cicatrizes douradas e visíveis tenham transformado sua essência estética, evocando o desgaste que o tempo provoca sobre as coisas físicas, a mutabilidade da identidade e o valor da imperfeição". (2) Os objetos assim mostram suas cicatrizes e marcas do tempo. Nesse sentido, "as peças tratadas com esse método exibem as feridas de seu passado, adquirindo uma nova vida. Tornam-se únicas e, portanto, ganham beleza e intensidade. Alguns objetos tratados com o método tradicional do kintsugi  (...) inclusive chegaram a ser mais apreciados que antes de quebrar. Desse modo, a técnica se transformou numa potente metáfora da importância da resistência e do amor próprio frente às adversidades". (3) É claro que meu reparo não foi com uma emenda de ouro, mas, foi feita a partir do entendimento dos objetos que têm sua história, se olharmos meu açucareiro com atenção é possível visualizar a sua "cicatriz". Mas, ele vai continuar por aqui tendo seu uso. Nas imagens você encontra o meu açucareiro quebrado e já "consertado". Ashikaga Yoshimasa, que teria enviado sua tigela à China em fins do século XV e uma tigela de chá,  do século XVI, com reparos em ouro.
.
.
.
💬✍🏽 E você conhecia a técnica do Kintsugi? O que você acha dela? Me conta!
.
.
.
📚✍🏽 Referências.
(1) Imagens 3 e 4 📸 Site Arteref. https://arteref.com/historia/kintsugi-entenda-a-arte-japonesa-de-valorizar-o-velho/ acessado em 10 de agosto de 2021. 🔖 Qualquer óbice em relação a imagem por favornnos avisar.
2)(3) MARTA Rebón. Kintsugi: a beleza das cicatrizes da vida.9 dezembro 2017.
In: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/01/eps/1512125016_071172.html acessado em 15 de agosto de 2021.
































Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A bolacha preta.

Bom Dia! Em fins da década de 80, fazíamos as famosas viagens de carro, no meu caso era de caçamba mesmo,  meu pai que é do Rio Grande do Norte, levava toda a família pra visitar a família dele e íamos felizes daqui do extremo Norte para o Nordeste. Lembro que nas viagens, em especial, na volta mamãe trazia uma boa reserva de Bolacha Preta, que eu vinha degustando e que tanto adoçavam minha viagem e meu paladar. Eram dias muito felizes e saborosos! Na última viagem que minha mãe fez, eu pedi que me trouxesse a dita bolacha, queria matar a saudade gustativa. A sorda é um popular e tradicional biscoito originário do nordeste brasileiro. Feito de uma massa composta de trigo, mel de rapadura e especiarias, tais como cravo, canela e gengibre. É fabricado artesanalmente ou industrializado por fábricas panificadoras em quase todos os estados do nordeste brasileiro, sendo muito consumido na área do sertão. Conhecido também em algumas localidades por bolacha preta, vaca pr...

É CARNAVAL.

Na pintura de Debret temos uma imagem do Carnaval  ou como era chamado no século XIX, de Dia d'entrudo. O dia d'entrudo que começava no domingo e seguia-se nos três dias gordos, era dia de festa em que os brincantes se jogavam "limões "cheios de água perfumada. A cena se passava no Rio de Janeiro, no ano de 1823. Segundo Debret: " O carnaval no Rio e em todas as províncias do Brasil não lembra, em geral, nem os bailes nem os cordões barulhentos de mascarados que, na Europa, comparecem a pé ou de carro nas ruas mais frequentadas, nem as corridas de cavalos xucros, tão comuns na Itália. Os únicos preparativos do carnaval brasileiro consistem na fabricação dos limões-de-cheiro, atividade que ocupa toda a família do pequeno capitalista, da viúva pobre, da negra livre que se reúne a duas ou três amigas, e finalmente das negras das casas ricas, e todas, com dois meses de antecedência e à força de economias, procuram constituir sua provisão de cera. O limão-...

Quadrados Paulista.

Olá, leitores! Essa receita é daquelas que é sensacional, veja bem: eu coloquei dois conceitos no meu livro um M/ DE MARAVILHOSO E UM E/excelente de tão boa que é!Façam, hoje mesmo :) sem palavras para descrever a tal gostosura. Quando fiz e provei essa receita, entendi que o livro Dona Benta tem raridades únicas e me questionei como aquela blogueira fazia duras críticas ao livro? Por que a minha experiência com ele a cada receita tem me deixado mais maravilhada, só posso pensar que a pessoa não deva entender muito da grandiosidade que é um livro que por gerações vem fazendo parte da cozinha de tantas pessoas...Enfim, vamos a receita: Quadrados Paulistas: p. 829. Ingredientes: Massa: 1 xícara chá de manteiga. 2 xícaras chá de açúcar. 2 xícaras chá de trigo. 1 colher de chá de fermento. 1/2 xícara de leite. 4 ovos separados. Glacê: Açúcar. Água ou sumo de laranja. Modo de Fazer: passo-a-passo:  Bata a manteiga com o açúcar, junte as gemas,...