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Mostrando postagens de fevereiro, 2023

Pupunha e as danças festivas dos uainumás.

Você sabia que o consumo da pupunha entre os uainumás era tão importante que eles faziam danças festivas quando os frutos da palmeira amadureciam? Segundo os viajantes Spix e Martius: " Os uainumás moram em grandes cabanas cônicas, onde estão dispostas duas portas pequenas, fronteiras uma a outra. Eles cultivam mandioca, mas pouca farinha fazem, quase exclusivamente só os beijus. Nas danças, enfeitam-se com profusão de penas. Essas danças festivas realizam- se em determinadas ocasiões: duas, quando amadurecem os frutos da palmeira pupunha, e oito quando as garças reais acarás, nos seus voos migratórios entre o Solimões e o Orenoco, aparecem nas suas águas. Faz-se então caça dessas aves aos milhares, assam-se em moquém e guardam-se como provisão ".(1) Importante observar que ambas as festividades estavam associadas a natureza e ao alimento que dela podiam obter. A pupunheira, em especial, permitia uma "colheita" farta, já que uma palmeira dava: "(...

Pupunha com café.

Se hoje é um hábito alimentar no extremo Norte do Brasil, o café com a pupunha, devemos isso aos povos originários que foram os responsáveis pela domesticação e cultivo da palmeira de pupunha. Se os indígenas não tivessem realizado esse processo, não teríamos a pupunha como um dos alimentos tão importante ao longo do nosso território. Desta forma, trago hoje um dos relatos mais completos sobre a pupunha, que foi escrito por Spix e Martius, no ano de 1817, quando de sua viagem de expedição Científica ao extremo Norte do Brasil. Os viajantes vieram ao Brasil junto com a comitiva oficial que acompanhou Maria Leopoldina da Áustria. Mas, já aqui no Brasil, partiram em viagem científica com objetivo de "coletar" espécimes de fauna e flora. Nesse trabalho, percorreram Rio de Janeiro, São Paulo, Ouro Preto e Diamantina, Salvador e por fim, na parte do extremo Norte do Brasil, a Capitania do Grão-Pará é Manaus. Levaram para Munique um acervo muito grande de espécimes zooló...

Doce de Pupunha.

E o doce de pupunhaem calda você conhece? Deixa eu te contar a história deste doce de pupunha na minha família. Mamãe sempre que era época de pupunha fazia esse doce, lembro do cheiro gostoso e de como ficava contando os minutos para esfriar e poder comer. E ele se tornou um hábito alimentar aqui na minha casa. Eu sempre faço também. A pupunha cozida em água e servida com café é uma das formas de consumo deste alimento ancestral. Mas, é apenas uma das formas. Da pupunha pode-se fazer doce em calda, licor,  mingau, com carne de panela, com mel. Aliás,  populações ancestrais foram responsáveis pela domesticação e cultivo da palmeira de pupunha. Também consumiam a  pupunha em mingaus, bebidas diversas e com mel. O consumo, portanto, como uma herança alimentar ancestral. Abgar Bastos, nos idos dos anos 80, do século XX, falava que a pupunha fazia parte dos lanches nos sitios e fazendas da região Amazônia. Segundo ele, "Nos lanches, o mesmo acima e pupu...

A pupunha e sua venda.

A pupunha pode ser encontrada para venda nas feiras e mercados. Entretanto, era/é parte da cultura alimentar em Belém, comprar pupunha cozida em tabuleiros pelas esquinas das ruas, e aliás, essa é um cena que compõem à vida da cidade de  Belém, ao longo do tempo. Alfredo, personagem de Dalcídio Jurandir, no início do século XX, ao andar pela cidade de Belém, vindo do interior, se encanta com a cidade. Deste modo o menino narra que: " Deveria fingir indiferença, mostrar que era menino habituado a ver Belém. Mas durou pouco essa prudente resolução. Deixou-se caminhar pela pracinha deserta, entregue ao seu deslumbramento. E livremente estaria pronto para exclamar de novo sobre o que visse, pedras da rua, o tequeteque com o seu armarinho às costas, tabuleiros de pupunha, quiosques, o que ia vendo, pela primeira vez, homens em bicicletas, colegiais, engraxates, meninos tão sozinhos, donos de seus pés, a apanhar bonde, e bichos, lojas, aqueles anúncios ah, grandes, por ci...

Pupunha.

A pupunha aparece em Santa Maria de Belém do Grão-Pará, de Dalcídio Jurandir: "(...) As quatro mulheres deliberaram. Libânia, entre partir lenha na cozinha e escutar o que conversavam, cadê sossego? Ia e vinha, sorrateira, disfarçada, comendo pupunha.(...)".(1) Ou seja, o "disfarçada comendo pupunha" era  "a deixa" para Libânia ouvir a conversa. Mas, é acima de tudo um uso que o autor faz de um hábito alimentar tão enraizado nas casas e nas famílias no Pará. A pupunha é um fruto que tem tamanhos,  cores e formato variáveis. As pupunhas [do video de ontem] eram em tons alaranjados, às pupunhas da fotografia de hoje, são verdes em vermelho/laranja e existem aquelas de casca vermelho-amarelo. De nome científico Bactris gasipaes Kunth, da família da Arecácea, é uma palmeira. Com variantes segundo Paulo Cavalcante "Guilielma speciosa Mart., G. gasipaes (Kunth) Bail., Bactris, speciosa (Mart.) Karst".(2) Ela pode ser encontrada em Trinida...

A Pupunha.

Estamos na época da pupunha.  Nas feiras e barracas, os cachos de pupunhas fazem gosto de ver. A safra da pupunha vai de novembro até junho e segundo Paulo Cavalcante: "O clímax da safra está nos meses de março e maio". (1) [Eu já falei da pupunha por aqui, vou deixar o link de outro texto nos stories]. Antônio Ladislau Monteiro Baena, fala em "Popunha: palmeira, que produz cachos de frutas com pequeno caroço umas, e outras sem ele. São oleosas, e come-se cozidas".(2) A pupunha era assim denominada por populações indígenas, que segundo Celestino Presco, seria uma derivação de "pipinha, de pipele,  pinha, brasa e, com efeito, os frutos desta variedade têm o epicarpo da cor de uma brasa".(3) E ainda, "A massa carnosa, amilácea e gordurosa, depois de cozida é muito gostosa e, por isso, este fruto é muito procurado pelas populações do Pará  e Manaus, que o usam como alimento. Estes frutos são vendidos já cozidos nas ruas de Belém e Manaus...

Vegetarianismo.

No texto anterior falei brevemente sobre como o vegetarianismo é um movimento antigo e de "raízes" profundas dentro das sociedades [ Se você quiser ler, volta um post].  O debate sobre o vegetarianismo ao longo do século XVIII, foi tema de inúmeras pautas e discussões dentro da sociedade, gerando associações e sociedades em prol do vegetarianismo. Como nos esclarecem Márcia Pimentel Magalhães & José Carlos de Oliveira, " No final do século XVIII ocorreu um movimento vegetariano promovido por médicos, comerciantes e escritores de religiões diversas e de estrutura econômica média".(1) Tal "movimento" permitiu em vários países da Europa, no século XIX e XX, o aparecimento de sociedades e associações veganistas. A exemplo, da The Vegetarian Society, em Northwood Villa, Ramsgate, Kent na Inglaterra, em 1847. (2) E ainda, "(...)a Sociedade Vegana em 1944. Donald Watson (1910- 2005) formou um grupo denominado “Grupo dos produtos não lácteos...

Panquecas.

Neste domingo, te convido a dar um "zoom" junto comigo nesta pintura simplesmente fantástica do pintor holandês, Adriaan de Lelie, de 1810. A pintura, reproduz uma cena comum na Holanda, a fabricação de panquecas numa casa. Observem que toda a cena se passa na cozinha,quatro personagens compõem a tela. A mulher ao centro que está fazendo às panquecas, segurando ao fogo a panela com a panqueca que está cozinhando. À sua frente, temos uma outra vasilha, a qual, provavelmente está a massa das panquecas e uma chaleira. Atrás da mulher temos um senhor acendendo seu cachimbo, ainda é possível ver um abano de mexer o fogão à lenha pendurado, uma quadro de paisagem, uma frigideira pendurada na parede ao fundo e um porta pano. Por cima do fogão ainda é possível visualizar um bule e pratos decorando. Além de uma gaiola.  Uma mulher mais jovem acaba de entrar na cozinha e está falando com a fazedora de panquecas e um jovem está chegando na cozinha. Eles chegam atraídos pel...

Veganuary.

Domingo com cartaz  de "veganuary" produzido durante à época da II Guerra Mundial, com objetivo de incentivar a dieta e o racionamento de carne. Naquela época, cartazes como esse estavam inseridos na ideia dos "esforços de guerra" que deveriam ser feitos pelos civis. O cartaz faz parte do acervo do Vamuseum @Vamuseum Mas, você sabia que a história do vegetarianismo é muito antiga? E que ela se fortalece nos séculos XIX e XX em função das novas sensibilidades surgidas na sociedade? Vem comigo conhecer um pouquinho mais desta história.  Segundo o historiador Keith Thomas, o vegetarianismo se fortalece no rol das novas sensibilidades  do século XIX e XX, já que: "A crítica à domesticação de animais ia ainda amais fundo. Com efeito, uma vez aceito que os animais deviam ser tratados com gentileza, era inevitável que aumentasse a repulsa a matá-los para comer. A tradição de que o homem fora originalmente vegetariano era antiga e universal (...)". Ne...

Ensopadinho de Camarão com legumes: Mosqueiro-PA.

O texto de hoje é sobre o quadro: "Daquilo que se come: rotas pelo Pará" [nesta série de textos eu vou falar sobre histórias da alimentação a partir de viagens pelo Pará]. E se você quer conhecer um pouquinho mais do Pará, me acompanha por aqui(...) Hoje vou falar sobre o ensopadinho de camarão com legumes, um dos pratos oferecidos nos hotéis da Ilha do Mosqueiro-PA, lugar de muitas histórias da alimentação.[ Já falamos sobre algumas das histórias do Mosqueiro]. O camarão frito era/é um dos preferidos pelos turistas e moradores. Leandro Tocantins nos lembra ainda que: "(...) descascávamos travessas de camarões fritos, joia de paladar, com regalo de uma batida com cachaça de Abaetetuba". (1) Mas, além do camarão frito havia uma preferência pelo ensopadinho de camarão regional com legumes. Nas lembranças de Dona Oscarina, que trabalhou por muitos anos no Hotel Farol, segundo nos contam Andréa Mártyres de Oliveira e Silvia Sueli Santos da Silva, autoras do...

Belém, 407 anos.

Em 1928, Manuel Bandeira escreveu um poema sobre Belém, intitulado Bembelelém, no poema ele descreve de forma muito poética o Bem que Belém é para todos àqueles que por aqui passam e toda saudade que ela deixa. Eu sou apaixonada por Belém, em seus detalhes, cores, histórias e muitos sabores. Tenho muita convicção que quem vai embora de Belém, nunca a esquece, como declama Bandeira: "Nunca mais me esquecerei das velas encarnadas Verdes Azuis Da doca de Ver-o-Peso". E assim dizia: " Bembelelém Viva Belém! Belém do Pará porto moderno integrado na equatorial Beleza eterna da paisagem Bembelelém Viva Belém! Cidade pomar (Obrigou a polícia a classificar um tipo novo de delinqüente: O apedrejador de mangueiras.) Bembelelém Viva Belém! Belém do Pará onde as avenidas se chamam Estradas: Estrada de São Jerônimo Estrada de Nazaré Onde a banal Avenida Marechal Deodoro da Fonseca de todas as cidades do Brasil Se chama liricamente Br...