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Biscoitos Raivas.

Para começar muito bem a semana, vamos de receita histórica. E  para hoje, temos os biscoitos chamados de "Raivas". Biscoitos da cozinha tradicional portuguesa e que aparecem em vários livros de receitas publicados no Brasil no século XIX. Também eram ofertados em estabelecimentos na praça comercial da cidade de Belém. [São deliciosos, com leve sabor de canela]. Esses biscoitos já aparecem no primeiro livro de receitas brasileiro, datado entre 1839/40. O livro, intitulado O Cozinheiro Imperial, sem autor definido, assinado apenas com as iniciais R. C. M, ao que tudo indica era chefe de cozinha da Corte. Neste livro, em grande medida as receitas são de origem portuguesa, o que demonstra muito bem as influências da cozinha lusitana no Brasil. Nesse sentido, o historiador João Ferro fez um mapeamento da doçaria tradicional Portuguesa por região/localidade, [infelizmente a sua lista ficou incompleta devido sua morte precoce], mas, a partir dela é possível identificarmos a maioria dos doces encontrados no Cozinheiro Imperial, a exemplo, temos as raivas, biscoitos que tinham origem na Estremadura, em Lisboa e no Convento de Odivelas.(1) Segue a receita:
                            "Raivas.
Em três arrateis de farinha de trigo se deita um de assucar em pó e doze ovos, sendo seis com claras, canella para tempero e um arratel de manteiga derretida; depois da bem unido tudo e amassado (não é preciso com muito
trabalho), se fazem argolinhas desta massa ou bolinho» redondos chamados raivas.
    São raivas, sim, porém que nos dão gosto, Quando por mãos d'anneis é seu composto.
Mettão-se em forno brando, e quando vão alourando tirão-se para fora, e provão-se todas".(2)
Lembrando que arrátel era a antiga medida de peso português. Portanto,  um (1) arrátel equivale a 459 gramas. E não esqueça de me contar se você fizer a receita, o que achou. Aqui em casa foi um sucesso.
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📚✍️🏽Referências.
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📸 Acervo pessoal da autora.
(1)Ferro, João Pedro. Arqueologia dos hábitos alimentares. Publicação Dom Quixote, Lisboa, 1996. p.78.
(2) Cozinheiro Imperial. Por R.C.M. 10° edição. Rio de Janeiro. Editora LAEMMERT & C. 1887, p, 304. 

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