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O consumo de carne de Tatu.

O tatu também compunha as carnes consumidas no Pará, em testemunho nos idos de 1858 François Biard nos relata de um jantar em que "vieram me chamar; o jantar era servido numa grande sala e numa mesa comprida de cabeceiras arredondadas a que se sentavam os donos na casa. Os pratos compunham-se de verduras, ovos de tartaruga, cutias (o coelho americano), paca, tatu, tartaruga; (...) Davam-se sempre pão, mas as outras pessoaspreferiam farinha de mandioca (...)". (1)Um verdadeiro banquete amazônico com a presença de cutias,paca,tatu,tartarugas. Sem faltar a farinha de mandioca. O tatu também compunha a lista de receitas do livro de receitas o Cozinheiro Nacional, sendo 6 receitas: tatu refogado, tatu ensopado com guandus ou mangalós, tatu frito, tatu guisado com mogango, tatu guisado com polpa de batatas e tatu refogado à moda com farinha de trigo.(2)A pesquisa nos permite dizer que, em todo o Brasil, era comum esse consumo de carnes de caça, do contrário não faria sentido tais receitas em livros de culinária do século XIX, e nem no cardápio dos restaurantes. Simão Estácio da Silveira em sua obra, intitulada Intentos da Jornada ao Pará, publicado em 1618, enfatiza que: “não foge a observação do autor a disponibilidade de animais silvestres, como antas, pacas, porcos e veados, além de aves como patos, galinhas, tucanos, garças e pombas, entre outras da região”.(3) Frei Vicente de Salvador afirma igualmente que, no século XVII, consumia-se as antas cuja carne era “no sabor e fevera como de vaca” e também “há outras mais caças de veados, coelhos, cutias e pacas, que são como lebres, mas, mais gordas e saborosas, e não se esfolam para se comerem, porque têm couros como de leitão”; por fim, os tatus também eram destinados ao consumo, sendo que a “sua carne assada é como de galinha”.(4) Em 19 de julho de 1888, no jornal Diário de Belém, acerca do lugar conhecido como Bandeira Branca, localizado no Marco da Légua, tido como “recreio do povo paraense” era possível encontrar (...)“paca no tucupy, paca guizada, paca assada (sem o calembourg), tatu no tucupy”.(5) No século XX, em 1927, comia-se também “gorda paca no tucupy” no Bar Paraense.

Referências.
🎨 Tatu 1822 a 1824. Lápis e aquarela/papel; 16x 24,8 cm. In: In: O Brasil dos Viajantes. BELLUZO, Ana Maria de Moraes. Ed. Objetiva/Metalivros. 1999.
🔖 Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar.
(1) BIARD, Auguste François. Dois anos no Brasil. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. P. 142.
(2) COZINHEIRO NACIONAL. COZINHEIRO NACIONAL, ou, Coleção das melhores receitas das cozinhas brasileiras e europeias: para a preparação de sopas, molhos e carnes. São Paulo: Atêlie Editorial: Editora Senac São Paulo, 2008.. cit.p. 230.
(3) SILVEIRA, Simão Estacio da. Intento da jornada ao Pará. Lisboa, 21 de setembro de 1618. In: SARAGOÇA, Lucinda. Da Feliz Lusitânia aos confins da Amazônia (1616-1618). p. 273.
(4) VICENTE, DO Salvador, Frei. História do Brasil. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, p. 87
(5) Diário de Belém, 19 de julho de 1888, p. 1. (6)Folha do Norte, 2 de agosto de 1927, p. 5.📌MACÊDO, Sidiana da Consolação Ferreira de. A Cozinha Mestiça uma história da Alimentação em Belém fins do século XIX. Programa de Pós graduação em História social da Amazônia. UFPA. 2016.


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