Pular para o conteúdo principal

As tampas de panelas de Cabinda.

Nós já tínhamos aqui no daquiloquesecome os domingos com filmes e agora teremos também o domingo pelos Museus. Vez por outra, vamos conhecer um pouquinho mais do que existe nos Museus sobre o mundo da alimentação. E começamos com chave de ouro, falando das "Tampas de panelas de Cabinda". Você conhece? Você sabia que as tampas de panelas de madeira de Cabinda (África Ocidental) falavam muito sobre a cultura local?  Elas traziam esculpidos os tradicionais provérbios africanos e eram utilizadas pelas mulheres como "uma arma poderosa para expressar seu descontentamento com o comportamento do marido".(1) já que as mulheres faziam uso dos ditados populares desenhados e esculpidos em suas tampas e que faziam parte da tradicional cultura Woyo. Então, vem comigo conhecer um pouquinho mais desta História. O Museu Nacional de Etnologia, em Lisboa, tem uma exposição permanente intitulada: "Matéria da Fala;Tampas de Panela com Provérbios" centrada justamente sobre as tampas com Provérbios africanos. Segundo o Museu, as tampas são: "Os elementos culturais designados por mabaya ma nzungu (singular libaya li nzungu) – o que, à letra, significa tábuas de panela – são discos em madeira destinados a cobrir as panelas de terracota, em que os cabindas cozinhavam e se serviam da sua comida".(2) As tampas que a princípio eram utilizadas para tampar e proteger os alimentos. Com o tempo, "terão começado a ser decoradas, como acontece com a maior parte dos objetos de uso caseiro ou pessoal. Tenha ou não sido assim, o certo é que a prática de utilizar as tampas como mensagens, começou a verificar-se". Assim, "Antes do casamento, se houvesse qualquer advertência a fazer à filha em relação às suas inclinações amorosas, os pais faziam-no através de tampas com mensagens adequadas, colocadas a cobrir a panela em que lhe era apresentada a sua comida. O mesmo sucedia relativamente ao rapaz (...) Nas festas do casamento, cada uma das famílias dos noivos, cobriria as panelas em que levava iguarias para as bodas, com tampas dando conselhos ou fazendo advertências quanto ao modo como queria que o futuro cônjuge, seu parente, fosse tratado"(3). Por fim, com os problemas do casamento, novamente, as tampas eram utilizadas para transmitir mensagens no âmbito da vida familiar. A mulher escolhia a tampa para dizer ao marido exatamente aquilo que trazia insatisfação à relação. Era um aviso, do que ela poderia fazer se o comportamento/ ou uma insatisfação dela permanecesse. Cada tampa tinha um Provérbio, e portanto, uma mensagem, um recado, uma leitura. Era assim, "uma manobra diplomática e tática" que tentava "resolver o problema pacificamente"(4)
Com o processo de colonização, o uso da tampas foi se perdendo, muitas tampas deixaram o território africano e foram para museus espalhados pelo mundo. Contudo, são muitas vezes apreciadas apenas pela beleza em si e não pela sua história cultural e repleta de simbolismos que elas significam.
.
.
.
💬 E você? O que achou da história das  tampas de panelas de Cabinda?
.
.
.
📚✍🏽 Referências.
📌 Lembramos que se você faz uso dos meus textos, peço que dê os créditos e faça a citação. Afinal, aí reside a riqueza da literatura bibliográfica: a sua diversidade de obras.
📸 Tampas de panelas de Cabinda. Fotografia do Museu de Etnologia. 🔖 Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar. Uso Educacional. https://mnetnologia.wordpress.com/exposicao_permanente/5-exposicao-permanente-materia-da-fala-tampas-de-panela-com-proverbios/
(1)(4) https://www.foodmuseum.nl/#nl/Page=144/Spreekwoorden_deksels.html acessado em 15 janeiro de 2022
(2)(3)https://mnetnologia.wordpress.com/exposicao_permanente/5-exposicao-permanente-materia-da-fala-tampas-de-panela-com-proverbios/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A bolacha preta.

Bom Dia! Em fins da década de 80, fazíamos as famosas viagens de carro, no meu caso era de caçamba mesmo,  meu pai que é do Rio Grande do Norte, levava toda a família pra visitar a família dele e íamos felizes daqui do extremo Norte para o Nordeste. Lembro que nas viagens, em especial, na volta mamãe trazia uma boa reserva de Bolacha Preta, que eu vinha degustando e que tanto adoçavam minha viagem e meu paladar. Eram dias muito felizes e saborosos! Na última viagem que minha mãe fez, eu pedi que me trouxesse a dita bolacha, queria matar a saudade gustativa. A sorda é um popular e tradicional biscoito originário do nordeste brasileiro. Feito de uma massa composta de trigo, mel de rapadura e especiarias, tais como cravo, canela e gengibre. É fabricado artesanalmente ou industrializado por fábricas panificadoras em quase todos os estados do nordeste brasileiro, sendo muito consumido na área do sertão. Conhecido também em algumas localidades por bolacha preta, vaca pr...

É CARNAVAL.

Na pintura de Debret temos uma imagem do Carnaval  ou como era chamado no século XIX, de Dia d'entrudo. O dia d'entrudo que começava no domingo e seguia-se nos três dias gordos, era dia de festa em que os brincantes se jogavam "limões "cheios de água perfumada. A cena se passava no Rio de Janeiro, no ano de 1823. Segundo Debret: " O carnaval no Rio e em todas as províncias do Brasil não lembra, em geral, nem os bailes nem os cordões barulhentos de mascarados que, na Europa, comparecem a pé ou de carro nas ruas mais frequentadas, nem as corridas de cavalos xucros, tão comuns na Itália. Os únicos preparativos do carnaval brasileiro consistem na fabricação dos limões-de-cheiro, atividade que ocupa toda a família do pequeno capitalista, da viúva pobre, da negra livre que se reúne a duas ou três amigas, e finalmente das negras das casas ricas, e todas, com dois meses de antecedência e à força de economias, procuram constituir sua provisão de cera. O limão-...

Quadrados Paulista.

Olá, leitores! Essa receita é daquelas que é sensacional, veja bem: eu coloquei dois conceitos no meu livro um M/ DE MARAVILHOSO E UM E/excelente de tão boa que é!Façam, hoje mesmo :) sem palavras para descrever a tal gostosura. Quando fiz e provei essa receita, entendi que o livro Dona Benta tem raridades únicas e me questionei como aquela blogueira fazia duras críticas ao livro? Por que a minha experiência com ele a cada receita tem me deixado mais maravilhada, só posso pensar que a pessoa não deva entender muito da grandiosidade que é um livro que por gerações vem fazendo parte da cozinha de tantas pessoas...Enfim, vamos a receita: Quadrados Paulistas: p. 829. Ingredientes: Massa: 1 xícara chá de manteiga. 2 xícaras chá de açúcar. 2 xícaras chá de trigo. 1 colher de chá de fermento. 1/2 xícara de leite. 4 ovos separados. Glacê: Açúcar. Água ou sumo de laranja. Modo de Fazer: passo-a-passo:  Bata a manteiga com o açúcar, junte as gemas,...