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Caruru no Círio.

Você sabia que o Caruru era um dos pratos preferidos e muito procurado no arraial de Nazaré? E que ele estava presente em vários locais de comer? Desde a Barraca da Santa, restaurantes e barracas maus populares do arraial? E que você podia consumir três tipos diferentes de Caruru por aqui? Não? Então, vêm comigo para mais uma história das comidinhas do Círio. Na fotografia, temos um prato de Caruru paraense [ Já tenho por aqui uma série de textos sobre o Caruru,vou colocar o link nos stories]; o caruru paraense é elaborado com camarão seco salgado, alho, cebola, tomate, coentro, quiabo, pimentão verde, dendê, farinha de mandioca, sal e pimenta de cheiro. Geralmente, ele é servido com arroz, jambu e camarões grandespor cima. Era um dos pratos cuja oferta é sempre visível. E se tem oferta é porque tem procura. Por exemplo, na festa de Nossa Senhora de Nazaré, em 16 de outubro de 1941, o jornal Folha do Norte, informava aos seus leitores que no local onde foi a “FotografiaNazaré”,durante o arraial de Nazaré, estavam servindo todas as noites um menu “delicado, a preços módicos”, cujos pratos eram:“a canja, a galinha assada, o casquinho de mussuan, casquinho de caranguejo, empadas de galinha, pasteis de carne e camarão, peru a brasileira, pato no tucupi, vatapá, caruru (...)". (2)Ao que tudo indica este local era mais popular, e talvez pretendesse, nesse tempo de festa, oferecer a um público com menor poder aquisitivo um cardápio que nem sempre era possível ser consumido pela maioria da população. O Caruru estava presente nos diversos estamentos sociais, sendo comida que circulava entre todas as camadas sociais da sociedade paraense. Outra questão importante, era notar que além do Caruru Paraense, era comum a venda do Caruru à Maranhense e do Caruru à Baiana. Na Barraca da Santa, local tido como mais elitizado e com preços mais elevados, no ano de 1927, o prato do Caruru custava 3$000 réis, em 1928 era oferecido por 2$000 réis e em 1941, volta ao preço original de 3$000 réis, sinal de que a procura era grande.(1) Observem que o Caruru à Maranhense estava sendo oferecido ao lado de outros pratos regionais como maniçoba, casquinhos de caranguejo e pato no tucupi. O Caruru à Maranhense levava ingredientes diferentes do Caruru Paraense, já que provavelmente era elaborado com camarão descascado médio, quiabos, cebola,alho, tomate, óleo,  cheiro-verde, leite de coco, leite, farinha branca peneirada, dendê,  sal, limão e pimenta. Igualmente, havia nesta época do ano a oferta de Caruru à Baiana, que por sua vez, continham quiabos, castanha de caju, amendoim torrado, cheiro verde, dendê, sal, pimenta do reino. [Nas receitas mais antigas encontradas em Manuel Querino o caruru é feito com carne de peixes]. Então, você já comeu Caruru? Me conta!!!
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📚✍️🏽 Referências.
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📸 Foto do acervo pessoal da autora.
Sidiana Macêdo,  Belém, 2019.
📸 Jornal Folha do Norte, outubro de 1928.
(1) Macêdo, Sidiana da Consolação Ferreira de. A Cozinha Mestiça uma história da alimentação em Belém. (Fins do século XIX e início do século XX). PPGHIST. UFPA,  2016. p, 259.
http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/8849 

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