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Filhós, filhoses ou beilhoses.

Não era biscoito, pão, pudim nem mousse...
A primeira receita que reproduzi do livro O Cozinheiro Imperial foi Verdadeira receita de beilhoses. Tenho certeza que muitos conhecem pelo nome de Filhós ou filhoses!
Comecei por essa receita, porque ela tem uma memória gustativa tão boa pra mim. Enquanto eu fazia, lembrava dos filhoses que a minha tia Leila fazia e ainda faz .... ahhhh os delas são tão bons, não tem iguais. Foi tia Leila, irmã de minha mãe, que me "apresentou" os filhoses de abóbora e, naquela época eu não imaginava a origem dos beilhoses, mas, como criança gulosa que sempre fui, amava cada pedacinho daqueles filhoses crocantes por fora, macios por dentro e com aquele gosto inigualável de abóbora, canela e açúcar. Consigo até sentir o cheiro e sabor agorinha mesmo. Mas, você sabe que os beilhoses ou filhoses, fazem parte da doçaria portuguesa? O historiador português João Pedro Ferro fez um mapeamento da doçaria tradicional Portuguesa por região/localidade, infelizmente a sua lista ficou incompleta devido sua morte precoce, mas, a partir dela é possível identificarmos que a maioria dos doces encontrados no livro O Cozinheiro Imperial são de origem lusa. A exemplo, temos as cavacas que tinham origem na região entre Douro e Minho, mais especificadamente nas localidades de Amarante e Resende, e ainda, na região da Estremadura em Caldas da Rainha (...) os filhós que aqui recebiam a denominação de filhoses ou beilhoses podiam ser encontrados na Beira, em Figueira da Foz, Góis e em Arronches (...) Os filhoses de arronches eram de especialidade de Isabel da Ponte Cabreira, professora do Convento de Santa Clara de Elvas, onde mantinha um abrigo de moças que fabricavam doces para vender nas casas ricas e às instituições religiosas".(1) A receita do livro O Cozinheiro Imperial é muito saborosa é servida com calda de açúcar, mel e canela por cima. E não passados na canela e açúcar como tia Leila sempre fazia. A receita não traz as quantidades exatas. Então, eu fiz com 1 abóbora média, 3 ovos e o trigo eu fui colocando aos poucos até ficar na consistência da foto, umas 250 gramas. Após fritar, as colheradas. Servi com calda de açúcar, mel e canela. Fica muito bom!

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Referências.
(1) FERRO, João Pedro. Arqueologia dos Hábitos Alimentares. Lisboa: Dom Quixote, 1996, p. 78.📌Para saber mais: MACÊDO, Sidiana da Consolação Ferreira de. A Cozinha Mestiça uma história da Alimentação em Belém fins do século XIX. Programa de Pós graduação em História social da Amazônia. UFPA. 2016


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