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O Cozinheiro Imperial.


O primeiro livro de receita publicado no Brasil, O Cozinheiro Imperial, data de 1839, existem dúvidas se foi em 1839 ou 1840, de autoria desconhecida que é apenas assinado com as iniciais R. C.M, publicado pela editora Laemmert. A historiadora Leila Algranti nos informa que umas das possibilidades é que o livro tenha sido escrito por um Chef de Cozinha da Corte. Segundo Algranti, “a ausência de um estilo de cozinha e de instruções pessoais (...) leva a supor que o autor do primeiro livro brasileiro de culinária não tenha sido um cozinheiro (...) o fato de o autor se intitular chef pode ter sido uma forma de conferir respeitabilidade àobra,reafirmando uma antiga tradição na história da edição dos livros de cozinha, cujas obras mais divulgadas, desde a Idade Média, foram escritas por cozinheiros experientes a serviço das grandes casas de nobreza europeia”. (1)O livro dizia na sua nota sobre a primeira edição que: “Ao Brasil faltava um tratado especial da arte da culinária; contando apenas com uma ou duas compilações publicadas em Portugal muito tempo atrás, e que não satisfazem os desejos pela falta de variedade de pratos”.(2) Em grande medida o livro faz uso de muitas especiarias, carnes de caça e outros elementos já fartamente empregados na cozinha europeia. E ainda, “parece que o intuito de Cozinheiro Imperial é oferecer ao Brasil um manual da ‘ciência culinária’ que equipare o país às nações europeias”.(3)No geral, as receitas seguem as inspirações europeias tanto na forma de preparo quanto nos ingredientes. Em especial, as receitas portuguesas, exemplo dessa realidade nos aponta Cristiana Couto que no capítulo de “Aves e caça”, O Cozinheiro Imperial consta de 75 receitas, destas “quase metades delas (36) originárias do livro português Cozinheiro Moderno (publicado em 1785) e 27 (mais de um terço) pertencentes a Arte de Cozinha, perfazendo um total de 84%”.(4) Ou seja, o levantamento feito por Couto acaba por “ilustrar que uma parcela significativa de receitas portuguesas atravessam os séculos XVII e XVIII e chegam ao final do terceiro quartel do século XIX em um livro brasileiro de cozinha”.(5) A partir de hoje vamos reproduzir as receitas históricas deste livro ...Vamos?
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Referências.
📸 O Cozinheiro Imperial. R.C.M. Editora Nova Cultural. 1996. (1)ALGRANTI, Leila M. O mestre Cuca Sem Nome.
In:www.revistadehistória.com.br. Acesso em 15 janeiro de 2016.E ainda ver: ALGRANTI, Leila Mezan. Os livros de receitas e a transmissão da arte luso-brasileira de fazer doces (séculos XVII-XIX). In: VIEIR, Alberto (Org.). O açúcar e o quotidiano: atas do III Seminário Internacional sobre o Açúcar. Funchal: Centro de Estudos de História do Atlântico, 2004, p. 127-143.(2) R. C.M., op. cit., p. 11. (3) (4) (5)COUTO, Cristiana Loureiro de Mendonça. Alimentação no Brasil e em Portugal no século XIX e o que os livros de cozinha revelam sobre as relações entre colônia e metrópole. Dissertação de Mestrado. PUC- São Paulo, 2003, p. 104,109,110 e 111.

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