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A "viração" da Tartaruga.

José Veríssimo também nos descreve a captura das tartarugas que era chamada de "viração da Tartaruga" ilustrada na imagem acima. Segundo o autor, "(...) A grande e rendosa pesca, a que se faz nas praias chamadas de viração". (1) Padre Antônio Vieira um dos primeiros a relatar sobre essa prática nos diz que: "Nos meses de outubro e novembro, saem do mar e do rio do Pará grande quantidade de tartarugas, que vêm criar nos areiais de algumas ilhas, que pelo meio dêste Tocantins estão lançadas (...) saem pois as duas primeiras espias, passeiam de alto a baixo tôda a praia, e como estas acham o campo livre, saem também as da vanguarda, e fazem muito devagar a mesma vigia (...) e depois delas sai tôda a multidão do exército com os escudos às costas, e começam a cobrir as praias (...) então os pescadores da emboscada, tomam a parte da praia, e remetendo as tartarugas, não fazem mais que ir virando e deixando; porque em estando viradas de costas, não se podem mais bulir, e por isso estas praias e estas tartarugas se chamam de viração ".(2)
Notem que algumas tartarugas já estão sendo levadas as canoas e quando chegavam lá, eram viradas de casco pra baixo para não fugir, no canto a direita um menino faz a viração de uma tartaruga que além de grande deveria ser pesada já que ele aparece fazer certa força para a realização da técnica. Um outro indígena carrega vários arpões que eram de uso da pesca deste animal, sobre eles nos conta José Veríssimo eles tinham "haste comprida (...) e ser fixa a ponta de ferro ou bico, serve em oitra forma da pesca das tartarugas e tracajás. Quando os sabem nos lagos, lagoas e outras águas menos profundezas e majs calmas (...) lá vão pegá-los com aquela arma". (3) É importante enfatizar que as práticas e hábitos alimentares foram construídos, a partir da relação estabelecida entre o espaço e a alimentação. Assim, trata-se de pensar como o território com suas múltiplas ofertas e dificuldades para o acesso aos alimentos se vincula à construção de um cardápio alimentar. Seria o que Montanari chama de “cozinha de território”, ou seja, “os pratos 
locais, ligados a produtos locais”.(3)Assim, “sob esse ponto de vista, a comida é, por 
definição, mais diretamente ligada aos recursos do lugar”.(4) 
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Referências. 
🎨 Ferreira, Alexandre Rodrigues. Viagem Filosófica pelas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. 1783-1792. V.1/2. In: http://bdor.sibi.ufrj.br/handle/doc/457. 🔖 Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar.(1) (3) José Veríssimo. A pesca na Amazônia. Universidade Federal do Pará. 1970. p. 45,48. (2) Antônio Vieira. História da Companhia de Jesus nas Extintas Províncias do Maranhão e Pará, edição de Cândido Mendes de Almeida in Memórias para a História do Extinto Estado do Maranhão, Rio, 1860, p. 459. (3)(4)MONTANARI, Massimo. Comida como cultura. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008. p. 135, 136. 

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