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O porto de Belém.

Durante o ano de 1859, quem estivesse residindo na capital da província do Pará
ao observar o cais, iria deparar-se com a seguinte cena: inúmeras embarcações que
diariamente chegavam carregadas de produtos regionais para abastecer a cidade trazendo, por exemplo, cacau, café, carnes, castanhas, feijão, arroz, o pirarucu, dentre outros, bem como distintos tipos de peixes como gurijuba e ainda sebos e manteiga de tartaruga, assim como a tão degustada farinha de mandioca. Como ressaltava Avé-Lallemant naquele ano de 1859: “o cais, [era] onde de descarregam os produtos da terra, chegados diariamente do interior”.(1) Segundo esse viajante, a movimentação era tamanha:  "Pequenas canoas e grandes barcos fluviais (...) iates ligeiros e
barcos pesados, estão atracados ao cais (...) e de todas as variedades de
embarcações saem sacos meio rotos, derramando caroços de cacau; cestos
desatados e barris abertos (...)E ainda cocos, as castanhas-do-pará,
triangulares, e o pirarucu!".(2)
Quase cem anos depois, o porto continua sendo extremamente importante para o abastecimento da cidade de Belém, na belíssima fotografia de Jablonsky, Tibor e Soares, Lúcio de Castro, temos um barco com pescadores vendendo diversos tipos de peixes no Porto de Ver-o-Peso em Belém, no ano de 1953. O abastecimento da cidade de Belém em grande medida provinha então dos interiores. Eram constante nos portos da cidade as canoas e diversas embarcações que procediam de Cametá, Marajó, Monsarás, Óbidos, Santarém, Bragança, Vigia e outros lugares carregadas dos mais variados produtos para abastecer o mercado, bem como para a exportação. Assim, "O comércio com Belém era fundamental tanto para as vilas e/ou
municípios como para a própria capital que contava com os gêneros alimentícios, em especial os tidos como de 1ª necessidade como carne verde, farinha, peixe seco ou fresco e outros que chegavam aos portos (ver-o-peso, sal, doca) para o abastecimento". (3)
Como se pode observar em um documento destinado ao vice-presidente da Província do Pará, Dr. Abel Graça, assinado pelos representantes da Vila de Monsarás, em 1870, onde havia uma solicitação da necessidade:
(...) da criação de uma linha de vapor, sendo esta a mesma que toca
entre os portos da capital e Soure, pois, com essa linha é de esperar que em
breve apareça os melhores desenvolvimento não só comercial como outros, que interessa a Província para o seu engrandecimento. (4) Spix e Martius quando estiveram no Pará, assim descreveram sua bacia hidrográfica:
"Os rios caudalosos que banham o Pará criam em grande quantida-
de todos os peixes saborosos que se conhecem nas outras partes do Brasil (...) Mesmo muitos peixes do mar,
sobretudo durante os meses de chuva, entram rio acima, sobem até longe,
e algumas aldeias de índios, sitas na costa do continente como na ilha de
Marajó, por exemplo, em Odivelas, Colares, Benfica, se ocupam, naquela
época, exclusivamente com a pesca". (5)
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📚✍🏽 Referências.
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📸 Autor: Jablonsky, Tibor; Soares, Lúcio de Castro. Título: Pescadores vendendo peixes no Porto de Ver-o-Peso em Belém (PA). Local: [Belém]. Ano: jun. 1953.
Assuntos: Belém (PA); Peixe; Pessoas; Portos.
https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=48785
🔖 Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar.
(1)(2)AVÉ-LALLEMANT, Robert. No Rio
Amazonas. Trad: Eduardo de Lima Castro. Belo Horizonte: Ed.
Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1980. pp. 55/56.
(3)MACÊDO, Sidiana da Consolação Ferreira de. Do que se come: uma história do abastecimento e da alimentação em Belém, 1850-1900. São Paulo: Alameda, 2014.
(4) Arquivo Público do Estado do Pará. Fundo: Secretária da Presidência da Província. Série: Ofícios das
Câmaras Municipais. Ano 1870-1875. Caixa 309. Documento 08.
(5) Spix, F., Johann Baptist von, 1781-1826.Viagem pelo Brasil (1817-1820) / Spix e Martius. ; tradução de Lúcia Furquim Lahmeyer -- Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2017. p, 80. 

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