Eu gosto muito da ideia de "gosto, patrimônio da infância" de Ariovaldo Franco,(1) acho um dos mais completos para pensarmos a formação do gosto criado a partir da infância e das nossas raízes. São as memórias gustativas que mais levamos conosco pela vida afora. A pintura de David Gerard, datada de 1520 é muito simbólica neste aspecto, "A virgem com sopa de leite". 🎨 Segundo Franco "a socialização de uma criança compreende as mais variadas noções sobre alimentação ".(p.24) E ainda, "o gosto é, portanto, moldado culturalmente e socialmente controlado (...) os alimentos habituais tornam-se objeto de predileção, os mais saboreados. Por isso, também, apreciam-se tanto os pratos da região em que se cresceu". (3).
Uma das primeiras relações que nos marcam como pessoa está relacionada a forma como construímos nossa base alimentar. As relações criadas em torno do que comemos refletem a escolha da família que estamos inseridos e da sociedade a qual fazemos parte. Daí porque esses sabores nos acompanham por toda a vida. "Os homens comem como a sociedade os ensinou. Os hábitos alimentares decorrem da interiorização, desde a mais tenra infância". (4). Gilberto Freire, em seu livro Açúcar nos afirma que "nossas preferências de paladar serem condicionadas, nas suas expressões específicas, pelas sociedades a que pertencemos, pelas culturas de que participamos, pelas ecologias em qie vivemos os anos decisivos de nossa existência". (5). Nesse sentido, o que comemos e como comemos revela traços de quem somos, estes traços construídos em grande parte na nossa infância permanecem vivos em nossa memória e vida adulta e mesmo quando abrimos nosso "leque" de gostos, NUNCA deixamos para trás o patrimônio de sabores que aprendemos a gostar em nossa infância. Este conjunto de sabores tão caro a nós, ao nosso íntimo revelam quem são os nossos e de onde viemos, nas palavras tão usadas e jamais gastas de Brillat-Savarin "Dize-me o que comes e te direi quem és ". (6).
🎨 David Gerard, tela intutalada La Vierge à la soupe au lait, 1520. Musées Royaux de Belgique, Bruxelas. 🔖Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar.
(2) Franco, Ariovaldo. De caçador a gourmet:uma história da gastronomia. 4 ed. São Paulo:Editora Senac São Paulo, 2006. p.24.
(3) Franco. op. cit., p. 25.
(4) Franco. op.cit., p. 26.
(5) Savarin, Brillat. A fisiologia do gosto. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.15.
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