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Mostrando postagens de novembro, 2021

Raspa-raspa, granizado? o raspa-raspa em Belém.

Você conhece o Granizado? Ou o raspa-raspa? Não!? Tenho certeza de quem mora em Belém conhece o raspa-raspa? Pois bem, o Granizado e o raspa-raspa são nomes diferentes de um produto semelhante. Você sabe a origem do raspa-raspa? Você sabia que uma provável origem da versão que conhecemos em Belém, seja em Baltimore, nos Estados Unidos? E que provavelmente tenha chegado em Belém devido às relações econômicas com os americanos e a produção de gelo? Então, vem comigo conhecer um pouquinho mais dessa História. Segundo Michelle Gienow, em “Cold Comfort: On the Cultural Significance of the Snowball in Baltimore”, o Granizado teria origem na década de 50, do século XIX,  quando desenvolveu-se uma indústria americana do gelo. O comércio das casas de gelo entre Nova York e a Flórida era constante e muito intensa. Para que esse gelo chegasse na Flórida era preciso transportá-lo em grandes blocos de trem. O trajeto passava por Baltimore, e lá as crianças desenvolveram uma prática ...

A Cozinha dos Terreiros: Riqueza Cultural.

Hildegardes Vianna em sua Breve Notícia sobre a Cozinha Baiana nos diz que: "A comida de candomblé é sempre na base do camarão seco e da cebola, havendo variações culinárias evidentes entre as diversas nações: queto, jejum, nagô e Angola, para falar nas principais. Nos candomblés negros, a  depender da nação,  há comidas com ou sem sal, com ou sem gengibre ou dandá etc. As comidas mais frequentes e mais populares nas mesas profanas têm no candomblé nomes diversos e muitas vezes preparo diferente".(1) Assim, o Caruru, "corresponde ao AMALÁ de Xangô. Recebe o nome de OBÉILÁ quando é feito de quiabos e EFÓ quando de folhas. Ambos são temperados com azeite-de-dendé, cebola, sal e camarão seco". (2) tem o Omulu,  "uma espécie de caruru chamado de LATIPÁ ou AMORI feito com folhas de mostarda aferventadas e escorridas na peneira, temperadas como efó com exceção do camarão seco. Depois de cozido e seco, frigese às colheradas no azeite-de-dendê. ...

"Alimento: Direito Sagrado".

Tat'etu Arabomi nos diz que:"Tudo começa e acaba com comida, tudo começa e acaba com cânticos, porque parece nós aqui os cânticos são primordiais, a gente canta para morrer, canta para nascer, canta para acordar de manhã, canta para dormir, tudo é cantado no candomblé (...) então essa é uma importância muito grande pra nós,  da alimentação,  de alimentar, de preparar essa comida, de comungar com essa comida, de distribuir essa comida para a comunidade". (1) Ao longo desta semana os textos tem sido falando do Caruru, que também é uma comida de santo. Nesse sentido, "o alimento é um direito sagrado" para povos e comunidades Tradicionais de Terreiros. A economia do Axé, tema de análise importante pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Comabte à Fome, através de Pesquisa Socioeconômica e Cultural de Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiros possibilitou um entendimento amplo sobre a economia do axé, os terreiros como fonte de segurança alimentar...

A lasanha.

Você sabia que a lasanha é tão antiga que já era consumida na época do Império Romano? E que ela podia ser recheada com peixes? E que usava-se caldo grosso entre as camadas? E que na Antiguidade já se falava em lasanha verde preparada com farinha e alface? E ainda, que a massa às vezes era frita em óleo? Vamos conhecer um pouquinho sobre a lasanha? No livro, "De re Coquinaria' de Marcos Gavius Apicius, datado do século I a. C, aparece um prato denominado de "lasana" ou "lasanum" que era elaborado com folhas de massa. Nesse livro, " encontramos o lagane cozinhado de forma a transformá-los (...) Eles são, na verdade, compostos por camadas alternadas de carne e peixe, picada, cozida e temperada e com camadas de massa folhada: "Quotquot posueris, tot trullas impensae desuper adficies" (quantas folhas colocar, quantas conchas jogadas em cima do tempero). Citando literalmente, " Le lasagne di Apicio Nel IV Libro del De re coquinari...

As primeiras máquinas de macarrão.

E de quando datam as primeiras máquinas de fazer macarrão? E sua produção industrial? Segundo Del Cielo, podemos entender que na Europa  essa produção industrial já seria visível "(...) a partir do século XVII, com o desenvolvimento de máquinas como o  torchio —  uma prensa mecânica para fazer macarrão ou aletria".(1) E ainda, o cientista francês Paul-Jacques Malouin foi o  responsável por importar técnicas de produção do macarrão de Nápoles para Paris, " (...) incluindo a amassadeira e uma espécie de prensa de parafuso para macarrão".Del Cielo descreve ainda o funcionamento da gravura de um livro publicado por Paul-Jacques Malouin, no ano de 1767, onde  "podemos ver um operador sentado em uma barra (A) se movendo para cima e para baixo amassando a massa (B). Esse processo levava 2 horas para ser finalizado. Depois de amassado, o preparo era colocado em um cilindro comprimido por um parafuso (C). A prensa era girada usando um sistema de...

Manuel Querino, a Arte da Culinária Baiana e Pedro Archanjo.

"Pedro Archanjo foi completamente absorvido pelas comemorações de seus cinquenta anos: sucessão ininterrupta de carurus, “dona Fernanda e seu Mané Lima mandam convidar o senhor para o caruru que dão no domingo pra seu Archanjo”, de batucadas, rodas de samba, encontros, reuniões, comilanças e pileques, todos queriam celebrá-lo. Mestre Archanjo mergulhou por inteiro naquele mar de cachaça, bailes e mulheres, no maior entusiasmo. Parecia querer recuperar de um golpe o tempo gasto, durante tantos anos, no estudo, no preparo do livro. Com fome e sede de vida, num desparrame de energia, era visto em toda parte, apareceu em lugares onde não voltara desde a juventude, reviu paisagens e refez itinerários esquecidos". (1) O personagem de Jorge Amado, Pedro Archanjo do livro Tenda dos Milagres, foi inspirado em Manuel Querino e como nos fala o historiador João José Reis, " (...) Pedro Archanjo resultaria de uma operação mais complicada. Amado dec...

Quem comia macarrão?

Afinal, o macarrão era um alimento acessível para todos? Nossa série de textos sobre o macarrão continua e pra quem ainda não leu nenhum dos textos é só voltar uns post do feed que você vai encontrar a sequência de todos os textos sobre macarrão. Tenho certeza que vais gostar. Bem, até o século XII, o macarrão é considerado um artigo de luxo e de consumo das classes mais abastados. Segundo Françoise Desportes, o macarrão não se tornará "popular antes do século XVII". Sendo antes disso "(...) um alimento, se não de luxo, pelo menos de qualidade, reservado aos consumidores mais abastados". (1) Na gravura italiana, do século XIV, temos duas mulheres na preparação do macarrão. A primeira, da direita está amassando o macarrão numa mesa, enquanto a segunda mulher está "pendurando" para secar tiras de aletria em uma prateleira própria para essa função. Percebam que a aletria é bem fina, posteriormente os fios ficam mais grossos e chegam ao formato que...

Receita Histórica: Macaroni Quenelle.

Que tal testar uma receita histórica de macarrão? A receita de hoje está no livro Tempting Dishes for Small Incomes, publicado pela primeira vez em 1890, de autoria de Mrs. De Salis, autora do livro 'A la Mode', séries of cookery books. A edição tratada aqui era de 1903, já era a oitava edição e foi publicada pela Longmans Green, And CO. em Londres e Nova York. A autora, segundo o sites CooksInfo. com: "Harriet Anne de Salis foi uma autora prolífica do popular livro de receitas inglês e autora de administração doméstica no final da era vitoriana - a “Era Dourada”, como alguns a chamam. Ela claramente recebeu alguma educação, sentindo-se confortável em escrever francês e latim. Ela costumava publicar sob o nome de Sra. De Salis". (1) É importante dizer que a autora, nascida em 23 de janeiro de 1829, em Devonshire Street, Marylebone, em Londres, escreveu e publicou  uma rica obra sobre livros de receitas, numa época que os homens ainda publica...

Caruru.

No caso deste prato, em particular, ele já  aparece nos relatos desde o século XVII (1) Vicente Salles nos diz que o Caruru é um prato regional amazônico, com este nome indígena, contém a contribuição do negro".(2) Existe o Caruru Paraense e o Baiano é existe diferenças entre eles. Salles traz esse entendimento a partir da leitura de Câmara Cascudo que descreve o Caruru como sendo uma “Iguaria indígena constando de um esparregado de bredos, hera vulgar cararu, escreveu Piso, médico do Conde de Nassau, 1638-1644 : come-se este bredo como legumes”.(3) Sendo um prato que viajou para África Ocidental e Oriental, onde “As pretas minas da Costa do Ouro (Gana), as do Daomé (...) fazem o caruru de mistura com bolos de milho e peixe, e mesmo galinha cozida”.(4) Foi na África que ele ganhou ingredientes locais e voltou ao Brasil com a forma que é consumida ainda nos dias de hoje: “O caruru transformou-se na África, partindo do pirão do brasileiro caá-riru, os bredos, ajudado pel...

Tampopo, filme e Lámen.

A indicação de filme de hoje é o clássico cult Tampopo: Os Brutos Também Comem Spaghetti, filme japonês, uma comédia romântica, de Jûzô Itami, de 1985. Sempre que vejo as cenas do filme tão repletas de comidinhas eu fico com vontade de lámen. Eu acho que o lámen é aquela comida que "literalmente se come com os olhos", não é verdade!? Bem, sobre o filme Maisa Kawata, analisa que: "Fazendo uma ode à comida e aos prazeres que a acompanham, Tampopo tem como história principal a busca de uma dona de um restaurante (Tampopo) pelo lámen perfeito. A ela se juntam pessoas que, ao redor da comida, percorrem diversos lamen-ya (restaurante especializado em lámen), provam e testam receitas até alcançar o grande objetivo: o macarrão que, de tão saboroso, é sorvido até a última gota".(1) A cena compartilhada aqui mostra um mestre ensinando ao seu discípulo como comer um Ramen e para isso se evoca vários sentidos. Assim, segundo  as palavras de M...

Zerega: A primeira fábrica de macarrão dos Estados Unidos.

Você sabia que a primeira fábrica de macarrão dos Estados Unidos foi fundada em 1848, no Brooklyn, pelo empresário francês Antonie Zerega? E que o aumento do consumo de macarrão nos Estados Unidos está relacionado a Primeira Grande Guerra? E a imigração italiana para os Estados Unidos? Como já apontamos anteriormente a fabricação do macarrão não ficou restrita a Itália,  a partir do século XIX, a produção do macarrão propaga-se por outros países, esse foi o caso dos Estados Unidos. Segundo Leandro Vilar: "O macarrão começou a se popularizar nos Estados Unidos na segunda metade do século XIX, surgindo fábricas em outros estados. Nos idos do XX, foi fundada  National Association of Macaroni and Noodle Manufacturers  em 1903. Revelando que esse alimento vinha conquistado o gosto americano (...)". (1) E ainda, " Foi justamente no século XIX que "surgiu a primeira fábrica mecanizada de macarrão (...) nos Estados Unidos. Em 1848, foi fund...

Seis etapas para comer com elegância o espaguete segundo a Revista Life.

Se o macarrão permite várias possibilidades e formas de consumo, como comer um bom prato de espaguete era algo que deveria estar nas revistas e nos manuais de etiqueta. Inclusive,  esse tema foi matéria no ano de 1942, pela Revista Life. Segundo Kate Bratskeir, a Revista ensinava e m 6 etapas como comer macarrão como elegância e etiqueta.(1)  Isso mesmo, a edição da Revista Life, iniciava seu tutorial apontando que na etapa 1, apenas 4 fios de espaguete deveriam ser consumidos de cada vez, "nem mais nem menos".(2)  Na etapa 2, " Step 2: "With soup spoon as prop, twirl fork and spaghetti gently." Era o momento de com apoio de uma colher, girar delicadamente o garfo e enrolar o espaguete no garfo. Em hipótese alguma poderia ter macarrão solto "espirrando" molho: " No diner should have to endure the indecency of loose pasta splattering on a pristine tablecloth. The spoon acts as a noodle hood, mitigating potential twirling mi...

Árvores de espaguete.

Você já viu uma "árvore de espaguete"? Na primeira fotografia, um trabalhador "pendura macarrão para secar em uma fábrica na Itália,  em 1932". Parece um "rio" de massa em preto e branco. Para alguns eram verdadeiras "árvores de espaguete".(1) O termo que tem origem nos programas de TV que mostravam as "árvores de espaguete" nas fábricas de massa italiana e que tem relação com a produção de massa. Nesse sentido, a produção de massa torna-se um dos mais importantes negócios em Nápoles e também de outras partes da Itália desde meados do século XIX. Assim, "Nas primeiras fábricas, os trabalhadores misturavam água e farinha para formar uma pasta e, em seguida, um operador sentado em uma barra de madeira pulava para cima e para baixo para amassar a massa, um processo que levava mais de duas horas para ser concluído. Só então a segunda equipe de homens (...) começou a transformar a pasta no que alguém reconheceri...

Spaghetti em Nápoles.

O spaghetti estava entre o tipo de massa mais consumido em Nápoles. Assim como existiam os vendedores de macarrão de rua (como aqueles que falamos no texto anterior); existiam os "comedores de macarrão", segundo Adee Braun, os vendedores de macarrão tiravam de seus "caldeirões fervendo longos fios de espaguete". Os quais eram entregues aos seus fregueses "comedores de macarrão" que "habilmente colocavam um punhado de macarrão em suas bocas". (1) Assim, " From the 17th to 19th centuries, macaroni, which was the term used for all forms of pasta, was a street food. And, like any proper street food, macaroni was eaten not with a fork, but with one’s bare hands". (2) Aliás,  muitos lugares de comer macarrão foram espalhando-se pelas ruas de Nápoles, como o "restaurante de macarrão de rua", das fotografias acima. E ainda, como nos aponta Adee Braun: " Cozinhar macarrão era algo simples: a massa era fer...

Biscoitos Fúnebres.

Você sabia que o mundo da alimentação esta relacionado e tem símbolos com o luto e os rituais fúnebres? Você conhece os biscoitos fúnebres? Não? Então,  vamos conhecê-los! Segundo Jéssica Leigh Hester, "Os biscoitos funerários (...) remontam pelo menos ao final do século 18, quando a The Gentleman's Magazine , um jornal mensal londrino, publicou uma breve sinopse sobre um anúncio de biscoitos visto na vitrine de uma loja na cidade de Knaresborough em North Yorkshire. O escritor - que assinou com "Syne" - não conseguia identificar "a origem desta cerimônia", mas escreveu que parecia pedir "uma espécie de biscoito açucarado, que são embrulhados, geralmente dois deles juntos, em uma folha de papel branco, lacrada com cera preta, e assim apresentada a cada pessoa que compareceu ao funeral ”. E ainda, "Os pequenos pacotes às vezes eram inscritos com poemas, versículos bíblicos ou outro memento mori". Assim, "Ocasionalmente, a mass...