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A Feira.

Vocês já observaram à importância social da Feira? A Feira vai muito além do seu caráter de abastecimento e econômico. Ela é acima de tudo local de relações de sociabilidades construídas por anos afins. E tais relações justificam a ida a Feira semanal de muitas pessoas. Às vezes, ouvimos alguém dizer " a mamãe/papai; vovô/vovó fazem questão de ir a feira". Isso porque, ir a Feira é muito mais do que comprar alimentos. Geralmente entre feirante e freguês são estabelecidos ao longo dos anos códigos sociais. Às vezes, o/a feirante conhece toda a família do freguês/freguesa e vice-versa, e a compra é ricamente acompanhada de saber notícias da família, de falar sobre os acontecimentos cotidianos e também de assuntos diversos. Por isso, gosto tanto do trabalho de Dias Jr., sobre a feira e suas diversas possibilidades de leituras. Segundo o autor, as "relações de sociabilidade são diversas entre os feirantes e os frequentadores da feira (...) O ato de comer é cercado pela presença do outro. Seja nas mesas dos restaurantes populares, nas bancadas das lanchonetes ou em pé em torno do carro que vende mingau, as pessoas não estão sós, estão comendo e conversando, transformando o momento de nutrição, numa partilha do prazer da conversa, na troca de informações, no simples jogo com o tempo. Essas relações de sociabilidade são diversas entre os feirantes e os frequentadores da feira". (1) E como nos aponta o autor são distintas também, já que: "Na feira há uma distinção entre freguês e cliente. Todo e qualquer comprador é um cliente, freguês é aquele mais costumaz, com o qual o feirante estabelece uma relação, muitas vezes, até de amizade". (2) Os beijus que mostrei no último texto foram comprados na Feira da Batista Campos em Belém. Ela fica localizada na Conselheiro com continuidade na Dr. Moraes, ao lado e nos fundos do Cemitério da Soledade [O mais antigo de Belém, fundado em 1850, mas, sem funcionamento para sepultamento desde 1880. Atualmente passa por reforma], a Feira é bem antiga, em 1974, ela já estava funcionando lá. Segundo dados coletados dos mais antigos é provavel que ela tenha vindo pra esse espaço quando a feira do Igarapé das Almas deixou de existir. Nós frequentamos à Feira da Batista Campos, há mais de 10 anos. Sempre compramos farinha, goma e beiju do senhor Beto, o senhor que aparece no vídeo. Os produtos dele são excelentes. [Agradeço a gentileza dele em fazer o vídeo e autorizar sua divulgação]. Quando comecei a comprar na barraca do Sr. Beto, minha filha tinha 1 ano e pouco, ela sempre nos acompanhava [marido e eu]. Desde então,  sempre que chegamos lá, a primeira pergunta que ele nos faz é pela bebê. [Que hoje está bem crescida]. E a compra se torna uma breve conversa. Uma prosa que em nenhum grande supermercado ou rede se tem. E esse "diferencial" é sempre o motor da existência das Feiras. A barraca do Sr. Beto fica na Dr. Moraes, especializada em farinhas d'água, de tapioca, goma e beijus. Os produtos chegam de vários municípios do Pará:São Francisco,  Americano, Bragança, entre outros. O funcionamento da Feira é: sexta-feira, sábado e domingo.
Existe muitas outras feiras em Belém, [Já falei por aqui de algumas delas, também antigas, outras estão no roteiro].
To be continued...
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💬 E você? Gosta de ir a Feira? Me conta!
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📚✍️🏽 Referências.
📽📸 Acervo da Autora. Feirante Sr. BETO.
Feira da Batista Campos, 23 de julho de 2022. Belém-PA.
(1)(2)Carlos Dias Júnior. Assim como o fogo, a palavra: cozinha, identidade e sociabilidade em uma feira na Amazônia.
|REIS |v. 3|n. 2|jul.-dez. 2019|p. 09-22|Rio Grande. https://periodicos.furg.br/reis/article/view/9599/7211

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