No vídeo, temos o beijucica ou beijuchica, um dos preferidos para tomar café num lanche da tarde em Belém. É um hábito alimentar mestiço e que segundo Mário Ypiranga Monteiro: "BEIJU com café (almoçando, almôço ou merenda) muito comum entre as populações caboclas e mesmo citadinas". (1) Aqui em casa, sempre compro na Feira, aos finais de semana, passo em cada beiju, uma "camada" de manteiga e levo uns 10 minutinhos ao forno. É simplesmente espetacular; acompanhado de uma xícara de café puro ou com leite uma delícia.
Impossível não lembrar da narrativa de Dalcídio Jurandir, em que Libânia passeava com Alfredo pelo Ver-o-Peso.
"Virou, mexeu, e Libânia recebia um oferecimento.
— Servida?
“Bom proveito” ela poderia dizer mas não, seria dar entrada àquele apresentado.
— Mas se sirva, faço questão, insistia o rapaz diante dos beijus no tabuleiro.
Libânia desviava o rosto, queixo duro, seus olhos molhados de peixe n’água. Alfredo reparava. Ela explicou:
— Saídos, esses homens.
Também era assim no Largo de Nazaré, no arraialzinho atrás". (2) Na ocasião, o rapaz que vendia beijus no tabuleiro oferecia os beijus como uma espécie de galanteio à Libânia. Dalcídio, em sua narrativa nos permite visualizar o beiju como alimento sendo ofertado de maneira cotidiana nos tabuleiros do Ver-o-Peso no início do século XX. Spix e Martius, quando de passagem pelo rio Negro, nos idos de 1820, nos contam que: "(...)os beijus, que são torrados agora pelas mulheres, com mandioca ralada e exprimida de fresco. Esses beijus, de dois pés de diâmetro e uma polegada de espessura, são saborosos, quando vêm ainda quentes do forno (...) Uma pequena espécie, em forma de disco (beijuchica), ao qual as mulheres dão forma redonda ou elíptica, com anéis de hastes de marmita, nos quais assam a massa, conserva-se bem, como biscoito, e é saudável". (3) [quem deseja saber mais sobre os beijus, temos dois textos anteriores sobre o tema, é só "correr" o feed].Nesse sentido, Monteiro afirma que: "BEIJU. Espécie de bôlo chato, com a forma mais comum de disco, variando para meia-lua, losangular. É depois da farinha o alimento mais decantado pelos cronistas de tôdas as épocas, que todavianem sempre distinguiram as castas". (4) Os beijus são alimentos de origem ancestral, que tornando-se parte da alimentação na Amazônia atravessa toda a linha do tempo e chega ao século XXI como importante e resistente hábito alimentar.
.
.
.
📚✍️🏽 Referências.
🛎O conteúdo deste blog está protegido pela lei n° 9.610 datada de 19-02-1998. Ao utilizá-los, não se esqueça de dar os créditos.
📽📸 Acervo da Autora. Belém, 2022.
(1) (4) Monteiro, Mário Ypiranga. Alimentos preparados à base da mandioca. Revista Brasileira de Folclore. Ano III, n° 5, jan/abril 1963. p.56-67.
(2)Dalcídio Jurandir, Belém do Grão Pará,
Livraria Martins: São Paulo, 1960. p.165.
(3) SPIX, Johann Baptiste Von & MARTIUS, Carl Friedrich Philippe von. Viagem pelo Brasil. (1817-1820). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1938, p, 315-317.
Impossível não lembrar da narrativa de Dalcídio Jurandir, em que Libânia passeava com Alfredo pelo Ver-o-Peso.
"Virou, mexeu, e Libânia recebia um oferecimento.
— Servida?
“Bom proveito” ela poderia dizer mas não, seria dar entrada àquele apresentado.
— Mas se sirva, faço questão, insistia o rapaz diante dos beijus no tabuleiro.
Libânia desviava o rosto, queixo duro, seus olhos molhados de peixe n’água. Alfredo reparava. Ela explicou:
— Saídos, esses homens.
Também era assim no Largo de Nazaré, no arraialzinho atrás". (2) Na ocasião, o rapaz que vendia beijus no tabuleiro oferecia os beijus como uma espécie de galanteio à Libânia. Dalcídio, em sua narrativa nos permite visualizar o beiju como alimento sendo ofertado de maneira cotidiana nos tabuleiros do Ver-o-Peso no início do século XX. Spix e Martius, quando de passagem pelo rio Negro, nos idos de 1820, nos contam que: "(...)os beijus, que são torrados agora pelas mulheres, com mandioca ralada e exprimida de fresco. Esses beijus, de dois pés de diâmetro e uma polegada de espessura, são saborosos, quando vêm ainda quentes do forno (...) Uma pequena espécie, em forma de disco (beijuchica), ao qual as mulheres dão forma redonda ou elíptica, com anéis de hastes de marmita, nos quais assam a massa, conserva-se bem, como biscoito, e é saudável". (3) [quem deseja saber mais sobre os beijus, temos dois textos anteriores sobre o tema, é só "correr" o feed].Nesse sentido, Monteiro afirma que: "BEIJU. Espécie de bôlo chato, com a forma mais comum de disco, variando para meia-lua, losangular. É depois da farinha o alimento mais decantado pelos cronistas de tôdas as épocas, que todavianem sempre distinguiram as castas". (4) Os beijus são alimentos de origem ancestral, que tornando-se parte da alimentação na Amazônia atravessa toda a linha do tempo e chega ao século XXI como importante e resistente hábito alimentar.
.
.
.
📚✍️🏽 Referências.
🛎O conteúdo deste blog está protegido pela lei n° 9.610 datada de 19-02-1998. Ao utilizá-los, não se esqueça de dar os créditos.
📽📸 Acervo da Autora. Belém, 2022.
(1) (4) Monteiro, Mário Ypiranga. Alimentos preparados à base da mandioca. Revista Brasileira de Folclore. Ano III, n° 5, jan/abril 1963. p.56-67.
(2)Dalcídio Jurandir, Belém do Grão Pará,
Livraria Martins: São Paulo, 1960. p.165.
(3) SPIX, Johann Baptiste Von & MARTIUS, Carl Friedrich Philippe von. Viagem pelo Brasil. (1817-1820). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1938, p, 315-317.
Comentários
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, participe, você também faz o blog...