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Abastecimento Leite no Pará.

No século XIX,  Henry Bates, quando passava pelos arredores de Santarém, no Pará, mas precisamente no ano de 1851, sobre o leite de vaca apontava que "Dizem que o leite é muito pobre e de fato é muito raro ver-se uma película de creme mesmo delgada, e a produção de cada vaca é muito pequena". (1) Já  Spix e Martius, em 1819, quando passavam por Tefé, no Amazonas, diziam que "Leite é coisa rara à mesa do habitante, assim como a carne de vaca" (2) Os viajantes contudo apontam que em Belém, no mesmo ano, "Quanto ao leite, as vacas não dão em abundância,  mas, é bastante bom". (3) O abastecimento de leite no Pará sempre foi um misto de ora tem, ora não tem. E mesmo o Pará tendo desde o século XIX, fazendas de criação de gado no Marajó, por diversas vezes o leite fresco não era encontrado com facilidade. Vários são os fatores que levavam a essa realidade como a localização dessas Fazendas, muitas vezes distante da cidade de Belém o que causava problemas de transporte, especialmente com as enchentes anuais comuns na Amazônia.  Outro fator eram às epidemias que assolavam a produção de gado, como foi o caso em 1885, quando "appareceu na ilha do Marajó epidemia no gado vaccum".(4) Lima faz referência, " A existência dos mondongos, onde se atolavam e morriam muitas crias e vacas enfraquecidas". (5) Tal realidade seria semelhante para toda a Amazônia,  na imagem vemos um homem a cuidar dos vasilhames pra a transporte de leite numa fazenda em Manaus. Notem parte da área alagada muito comum nas fazendas do Marajó também. Tais fatores levam a "falta" de leite em alguns interiores ou o pouco acesso à ele, o que vai levar parte da população a recorrer ao leite importado, especialmente na primeira metade do século XX. Aliás, desde finais do século XIX, na cidade de Belém desenvolveu-se um comércio ativo centrado na importação de leite.  Na Mercearia Amazônia, por exemplo, casa importadora bastante conhecida na cidade no ano de 1891, havia anúncio da venda de leite de origem Suíça, vendido em latas de litro "sem igual no mercado". (6) Então, é muito importante dizer que nem sempre ter leite significava ter acesso ou beber esse leite, já que outros fatores devem ser levados em conta no abastecimento de leite na região. 
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💬 To be continued...



📸ID: 8111. Autor: Chagas, Hernondino; Dias, Catharina Vergolino, 1928-
Título: Vasilhames para o transporte do leite, na Fazenda Cambiche (AM) Local: Manaus, Ano: fev.1966. 
https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=48111
(1) Bates, Henry Walter. O naturalista no Rio Amazonas (1848-1859) São Paulo, Ed. Nacional, 1944. p. 42. 
(2)(3) Spix e Martius, Viagem pelo Brasil (1817-1820). Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1938. 3v. p. 266, 69. 
(4) Relatório Exmo. Sr. Dr. João  Lourenço Paes de Souza. Primeiro Vice-Presidente de Província. 16 de setembro de 1885. p. 6. (5) Lima, Eli Napoleão. Extrativismo é produção de alimentos. Belém é o núcleo subsidiário de Marajó. 1859-1920. Revista Estudos Sociedade e Agricultura, 7 de dezembro de 1996, p. 59/89. In: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar 
(6) MACÊDO, Sidiana. Do que se come:uma história do abastecimento e da Alimentação em Belém 1850-1900. São Paulo: editora  Alameda, 2014. p. 186. 

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