Pular para o conteúdo principal

As vacarias em Belém.

Quem não lembra do personagem de Dalcídio Jurandir, seu Agostinho, que era dono de uma vacaria localizada defronte da casa dos Alcântaras? "Seu Agostinho continuava a entrar na rua, vindo da Generalíssimo, o cavalo, a carroça, a campainha: a Vacaria Aurora acabando de 
distribuir o leite". (1) Seu Agostinho, era dono da Vacaria Aurora. As vacarias, na cidade de Belém geralmente estavam localizadas na Cidade Velha, na Baixa da Serzedelo Corrêa, na Baixa do Umarizal, Reduto e Alcindo Cacela. Em meados do século XX, eram comuns em diversos bairros a presença das vacarias, estabelecimentos que centravam suas atividades na criação de vacas para a produção diária de leite. Esses estabelecimentos que, há bastante tempo, já faziam parte do cenário de Belém, quando no século XIX os leiteiros saíam às ruas para vender seu produto in natura, o que faziam acompanhado das vacas andando pelas ruas, de casa em casa, ordenhando o animal na frente da freguesia, como já apontado no texto de ontem.(2) Em fins do século XIX, as queixas do governo municipal acerca da circulação das vacas com seus respectivos leiteiros pelas ruas de Belém nos permitem ver um pouco mais sobre essa prática da venda ambulante de leite bovino, quando o governo reclamava “do gado que estacionava na rua para o fornecimento do leite num cotidiano 
que ia desde as seis horas da manhã, e por isso exigia ação rigorosa da fiscalização”.(3) Era justamente no horário das seis até as oito horas da manhã que se fazia a venda do leite. Da mesma forma, que o Livro de Detalhes do Executivo Municipal ressaltava que seria “de toda conveniência evitar que continuem alguns pontos centrais da cidade a servir de pastagem do gado que abastece de leite à população”.(4) Tal prática era vista como algo que além de perigoso para os transeuntes, trazia ofensas à moral e aos bons costumes, assim sendo cabia ao fiscal determinar locais mais afastados e subúrbios para serem destinados a esse fim. Para além das questões de limpeza e beleza da cidade, existia ainda a preocupação com as questões de higiene e consequentemente com a saúde. Modelar nesse sentido na virada do século XIX para o XX eram as denúncias contra vacarias no jornal. Em 1897, reclamava-se contra uma vacaria, localizada na Rua Apinagés esquina com a Mundurucus, já que os esgotos “estagnando-se na primeira d‟essas ruas, constituem um foco de miasmas”.(5) Existindo em áreas afastadas e subúrbios da cidade, as vacarias geralmente se localizavam em áreas mais baixas do relevo urbano, portanto, em áreas de alagamento ou de várzeas, daí também a razão de ser da referida queixa. Queixas e conflitos em relação ao fornecimento de leite em Belém, aliás, foram constantes. (6) O abastecimento, venda e consumo do leite em Belém sempre foi um dos grandes "problemas" do poder público. 
.
.
.
💭 E na sua cidade haviam vacarias? Me conta?✍🏽
.
.
.
📚✍🏽Referências. 
📸 Belém, 1935. In: Belém Antiga, Facebook. 🔖Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar.  https://m.facebook.com/belemdopassado/?locale2=pt_BR 
(1) Dalcídio Jurandir, Belém do Grão Pará, 
Livraria Martins: São Paulo, 1960. p. 54. 
(2) Sobre a relação dos animais dentro da cidade ver: VIEIRA, D.D. J. A cidade e os “bichos”. Poder público, sociedade e animais em Belém (1892-1917). Belém: Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia, Dissertação de Mestrado, 2015. (3) O Pará, 19 de janeiro de 1808, p. 2. (4)O Pará, 24 de dezembro de 1897, p. 2. (5) O Pará, 30 de dezembro de 1897, p. 2.(6) Macêdo, Sidiana da Consolação Ferreira de Macêdo. A Cozinha Mestiça uma história da alimentação em Belém. (Fins do século XIX e início do século XX). PPGHIST. UFPA,  2016.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A bolacha preta.

Bom Dia! Em fins da década de 80, fazíamos as famosas viagens de carro, no meu caso era de caçamba mesmo,  meu pai que é do Rio Grande do Norte, levava toda a família pra visitar a família dele e íamos felizes daqui do extremo Norte para o Nordeste. Lembro que nas viagens, em especial, na volta mamãe trazia uma boa reserva de Bolacha Preta, que eu vinha degustando e que tanto adoçavam minha viagem e meu paladar. Eram dias muito felizes e saborosos! Na última viagem que minha mãe fez, eu pedi que me trouxesse a dita bolacha, queria matar a saudade gustativa. A sorda é um popular e tradicional biscoito originário do nordeste brasileiro. Feito de uma massa composta de trigo, mel de rapadura e especiarias, tais como cravo, canela e gengibre. É fabricado artesanalmente ou industrializado por fábricas panificadoras em quase todos os estados do nordeste brasileiro, sendo muito consumido na área do sertão. Conhecido também em algumas localidades por bolacha preta, vaca pr...

É CARNAVAL.

Na pintura de Debret temos uma imagem do Carnaval  ou como era chamado no século XIX, de Dia d'entrudo. O dia d'entrudo que começava no domingo e seguia-se nos três dias gordos, era dia de festa em que os brincantes se jogavam "limões "cheios de água perfumada. A cena se passava no Rio de Janeiro, no ano de 1823. Segundo Debret: " O carnaval no Rio e em todas as províncias do Brasil não lembra, em geral, nem os bailes nem os cordões barulhentos de mascarados que, na Europa, comparecem a pé ou de carro nas ruas mais frequentadas, nem as corridas de cavalos xucros, tão comuns na Itália. Os únicos preparativos do carnaval brasileiro consistem na fabricação dos limões-de-cheiro, atividade que ocupa toda a família do pequeno capitalista, da viúva pobre, da negra livre que se reúne a duas ou três amigas, e finalmente das negras das casas ricas, e todas, com dois meses de antecedência e à força de economias, procuram constituir sua provisão de cera. O limão-...

Quadrados Paulista.

Olá, leitores! Essa receita é daquelas que é sensacional, veja bem: eu coloquei dois conceitos no meu livro um M/ DE MARAVILHOSO E UM E/excelente de tão boa que é!Façam, hoje mesmo :) sem palavras para descrever a tal gostosura. Quando fiz e provei essa receita, entendi que o livro Dona Benta tem raridades únicas e me questionei como aquela blogueira fazia duras críticas ao livro? Por que a minha experiência com ele a cada receita tem me deixado mais maravilhada, só posso pensar que a pessoa não deva entender muito da grandiosidade que é um livro que por gerações vem fazendo parte da cozinha de tantas pessoas...Enfim, vamos a receita: Quadrados Paulistas: p. 829. Ingredientes: Massa: 1 xícara chá de manteiga. 2 xícaras chá de açúcar. 2 xícaras chá de trigo. 1 colher de chá de fermento. 1/2 xícara de leite. 4 ovos separados. Glacê: Açúcar. Água ou sumo de laranja. Modo de Fazer: passo-a-passo:  Bata a manteiga com o açúcar, junte as gemas,...