A questão em torno da venda de leite em Belém adentrou o século XX e longe de terminar sempre foi um problema entre donos de vacarias, poder público e população. Em documento à Câmara Municipal, no ano de 1883, os senhores vendedores de leite e provavelmente donos de vacarias da capital, diziam-se prejudicados com a proibição da venda de leite em latas, utilizando como justificativa que tal prática já era usual em outras províncias do Império: “(...) que a condução do leite em grandes latas é permittida em outras províncias do Império, exigindo-se somente que elle seja puro, e que as vasilhas sejam limpas e fabricadas de material apropriado que não estrague o leite, devendo isto ser fiscalizada pelos respectivos empregados da Câmara Municipal”.(1)Com a exigência de que o leite fosse tirado diretamente da vaca na frente do freguês, os donos das vacas mostravam-se contrários. Afirmavam que não era possível a um vendedor de leite que possuísse “cinco, dez ou vinte vaccas” que pudesse “conduzir consigo todo seu gado pelas ruas da cidade”, uma vez que “não pode com uma só vaca servir a todos os seus fregueses (...)”.(2)Menos de uma década depois, percebemos as contradições do discurso civilizador que almejava uma cidade moderna e higienizada,portanto salubre em todos os sentidos, mas que mantinha a venda do leite ordenhado diretamente das vacas de porta em porta pelas ruas da cidade, ao invés da venda em garrafas ou latas. (3) Somente avançando as primeiras décadas do século XX, haveriam os leiteiros
e donos de vacarias obter a venda do leite em latas, o que, por sua vez, seria fonte de
conflitos e queixas. Em janeiro de 1920, o jornal Folha do Norte afirmava que os leiteiros batizavam o leite com água e ainda se sentiam vítimas de uma perseguição feita pelo governo, em
especial pelos guardas sanitários municipais, que inutilizavam o leite que era levado ao “baptisterio do dr. Ferreira Celso, director do Serviço de Águas”. Assim aconteceu quando os guardas municipais encontraram à venda, em poder de dois leiteiros, 32 litros de leite com água que acabaram inutilizando.(4) A explicação dada pelos leiteiros, segundo a Folha do Norte, era de que “andando pela chuva, a água escorria para dentro do vasilhame e falsificava seu negócio. Mas o leite saia do estábulo puro como luz do dia, juravam em sua defesa”.(5) Na imagem, datada de 1961, segundo nos aponta Lúcio Flávio Pinto, "uma blitz da Secretária de Saúde numa das muitas vacarias que havia no perímetro urbano de Belém(...)". Nota-se que o leite já era vendido em latas, nas carrocinhas de leite, nelas o leite era "guardado na parte traseira do veículo, em vasilhames metálicos, mas o distinto cocheiro da vanguarda".(6)
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💭🥛 E na sua cidade? Haviam problemas relacionados ao abastecimento de leite?
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📚✍🏽 Referências.
📸 (6)PINTO, Lúcio Flávio. Álbum da Memória. Belém: edição do autor, setembro de 2014, p. 324. 🔖Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar. (1) (2)Arquivo Público do Estado do Pará. Fundo: Secretária de Presidência de Província. Câmara Municipal de Belém. Abaixo-assinados. Belém do Pará, 6 de junho de 1883.(3) Macêdo, Sidiana da Consolação Ferreira de Macêdo. A Cozinha Mestiça uma história da alimentação em Belém. (Fins do século XIX e início do século XX). PPGHIST. UFPA, 2016. p.84-85-86. (4) Folha do Norte, 25 de janeiro de 1920, p. 4. (5) 273 Folha do Norte. 01 de fevereiro de 1920. p.1.
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