Archestrato, famoso poeta e gastronômo, que viveu no século IV a.C nos fala em "comer tiras de macarrão quente embebido em molho forte":
"Poscia le strisce di paste ne mangia
E calde e intrise in forte salsa".(1) Na Ópera de Antifone, fala-se em "lasanha verde feita de farinha, alface picada, pimenta e toucinho; a massa assim obtida foi frita em óleo. É o lagano Ápulo-Lucano-Calábrico, produzido sobretudo em Taranto, cidade famosa por suas ricas "cantinas", e imigrado para Roma pelo poeta veneziano Orazio". (2) Aliás, já existia na Grécia Antiga uma massa elaborada com farinha em formato de tiras achatadas que se assemelhava ao macarrão. Essa massa recebia o nome de Laganon. Em Roma, essa massa tinha o nome de Laganum. Tornou-se lugar comum pensar que o macarrão foi trazido à Itália, da China, por Marco Polo. Aliás, ontem "dia da pasta" em vi várias afirmações como essa nas redes sociais, inclusive em sites "famosos". Primeiramente, é preciso entender que o mundo da alimentação é vasto e repleto de trocas. Especialmente, no que tange ao abastecimento. Assim, a história mais provável da "reintrodução" do macarrão ou massa seca na Itália, aponta para o comércio com árabes. Fernand Braudel nos diz que, antes do século XVI, " A Itália recebe trigo bizantino, mais tarde turco". (3) E apesar da região de Nápoles ter assistido a um alvorecer de fábricas de macarrão, essa reintrodução do consumo do macarrão na Itália tem como "porta de entrada" a região da Sicília. Nesse sentido, segundo nos aponta o historiador Rudolf Trefzer "A história da pasta (massa) é a história da fabricação das massas, tão antiga e ramificada que seria impossível perseguir suas pegadas imprecisas. (...) Ao reino das lendas pertence até hoje a fantasiosa concepção de que Marco Polo teria trazido da China para a Itália o segredo do fabrico das massas".(4) E ainda, "O que vale com absoluta segurança quanto à pasta fresca, feita de farinha de trigo e ovos, para o consumo imediato. Ela era conhecida havia muito tempo por muitos povos mediterrâneo e também em outros lugares do mundo, inclusive na China".(5) O Laganon/ Laganum é um exemplo deste conhecimento tão antigo. O autor também enfatiza que já a "pasta secca, que se supõe ser de origem árabe. De fato, os primeiros testemunhos europeus da fabricação de massas secas e, por conseguinte, duráveis, vieram da Sicília, região que sofreu forte influência da cultura árabe ". (6) Por isso, é fundamental o estudo da História da Alimentação pra que não se reproduzam as "lendas fantasiosas" e que possamos ter caminhos reais de análise.
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📚✍🏽 Referências.
📸 Canva.
(1) In: ARCHESTRATO di Gela, Gastrologia, a cura di D. Scinà, Palermo (I), R. Stamperia, 1823, p. 63.da: SADA Luigi, Spaghetti e Compagni. Edizioni del Centro Librario, Biblioteca de “La Taberna”, Bari (I), 1982, p. 27.
(2) ANTIFONE, No Ateneu, livro XIV, cap. 23, pág. 647, 661 de: SADA Luigi, Spaghetti and Compagni. Edições do Centro Bibliotecário, Biblioteca “La Taberna”. Bari (I), 1982, p. 27.
https://pasta.museidelcibo.it/
https://pasta.museidelcibo.it/il-frantoio-di-giovanni-stradano/
(3) Braudel, Fernand, Civilização material, economia e capitalismo séculos XV-XVIII Trad. Telma Costa. São Paulo:Martins Fontes, 1995, p. 108.
(4)(5)(6) Trefzer, Rudolf. Os sabores do Piemonte: receitas, história e histórias. Trad. João Marschner, São Paulo:Editora Senac São Paulo, 2002, p. 73/74.
"Poscia le strisce di paste ne mangia
E calde e intrise in forte salsa".(1) Na Ópera de Antifone, fala-se em "lasanha verde feita de farinha, alface picada, pimenta e toucinho; a massa assim obtida foi frita em óleo. É o lagano Ápulo-Lucano-Calábrico, produzido sobretudo em Taranto, cidade famosa por suas ricas "cantinas", e imigrado para Roma pelo poeta veneziano Orazio". (2) Aliás, já existia na Grécia Antiga uma massa elaborada com farinha em formato de tiras achatadas que se assemelhava ao macarrão. Essa massa recebia o nome de Laganon. Em Roma, essa massa tinha o nome de Laganum. Tornou-se lugar comum pensar que o macarrão foi trazido à Itália, da China, por Marco Polo. Aliás, ontem "dia da pasta" em vi várias afirmações como essa nas redes sociais, inclusive em sites "famosos". Primeiramente, é preciso entender que o mundo da alimentação é vasto e repleto de trocas. Especialmente, no que tange ao abastecimento. Assim, a história mais provável da "reintrodução" do macarrão ou massa seca na Itália, aponta para o comércio com árabes. Fernand Braudel nos diz que, antes do século XVI, " A Itália recebe trigo bizantino, mais tarde turco". (3) E apesar da região de Nápoles ter assistido a um alvorecer de fábricas de macarrão, essa reintrodução do consumo do macarrão na Itália tem como "porta de entrada" a região da Sicília. Nesse sentido, segundo nos aponta o historiador Rudolf Trefzer "A história da pasta (massa) é a história da fabricação das massas, tão antiga e ramificada que seria impossível perseguir suas pegadas imprecisas. (...) Ao reino das lendas pertence até hoje a fantasiosa concepção de que Marco Polo teria trazido da China para a Itália o segredo do fabrico das massas".(4) E ainda, "O que vale com absoluta segurança quanto à pasta fresca, feita de farinha de trigo e ovos, para o consumo imediato. Ela era conhecida havia muito tempo por muitos povos mediterrâneo e também em outros lugares do mundo, inclusive na China".(5) O Laganon/ Laganum é um exemplo deste conhecimento tão antigo. O autor também enfatiza que já a "pasta secca, que se supõe ser de origem árabe. De fato, os primeiros testemunhos europeus da fabricação de massas secas e, por conseguinte, duráveis, vieram da Sicília, região que sofreu forte influência da cultura árabe ". (6) Por isso, é fundamental o estudo da História da Alimentação pra que não se reproduzam as "lendas fantasiosas" e que possamos ter caminhos reais de análise.
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📚✍🏽 Referências.
📸 Canva.
(1) In: ARCHESTRATO di Gela, Gastrologia, a cura di D. Scinà, Palermo (I), R. Stamperia, 1823, p. 63.da: SADA Luigi, Spaghetti e Compagni. Edizioni del Centro Librario, Biblioteca de “La Taberna”, Bari (I), 1982, p. 27.
(2) ANTIFONE, No Ateneu, livro XIV, cap. 23, pág. 647, 661 de: SADA Luigi, Spaghetti and Compagni. Edições do Centro Bibliotecário, Biblioteca “La Taberna”. Bari (I), 1982, p. 27.
https://pasta.museidelcibo.it/
https://pasta.museidelcibo.it/il-frantoio-di-giovanni-stradano/
(3) Braudel, Fernand, Civilização material, economia e capitalismo séculos XV-XVIII Trad. Telma Costa. São Paulo:Martins Fontes, 1995, p. 108.
(4)(5)(6) Trefzer, Rudolf. Os sabores do Piemonte: receitas, história e histórias. Trad. João Marschner, São Paulo:Editora Senac São Paulo, 2002, p. 73/74.
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