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A venda de mingau em Belém.

Pierre Verger estava inspiradíssimo quando fez essas fotos de Belém no ano de 1948. Eu tenho um apreço imenso por essa foto, ela me toca profundamente por várias razões: Primeiro porque ela tem como cenário central as pessoas, os sujeitos sociais do mundo da alimentação que tanto eu falo na minha pesquisa e que me são tão caros. A tese está repleta deles. Uma segunda questão é que ele reproduz a venda e comércio de mingau na cidade de Belém tão característica e cotidiana. Não apenas em Belém, mas, no Pará como um todo. As minhas lembranças de infância me remetem a Abaetetuba e os mingaus de Açaí e Miriti da "Diquinha". Ao olhar com cuidado a fotografia é possível ver pessoas parando para "merendar" um mingau, que podia ser de banana, açaí, tapioca ou miriti servidos bem quentes na cuia. Notem que o local está composto em sua maioria pelos trabalhadores, no canto a esquerda com roupa e chapéu branco temos o vendedor de mingau. Notem que ele está servindo uma cuia, existem fregueses esperando a sua cuia de mingau. Atrás dele tem um homem sentado que está sorvendo pensativo seu mingau, talvez, pensando nas coisas que ainda teria que fazer naquele dia. Também é possível visualizar panelas que deveriam conter provavelmente mingau. Ou estavam vazias? Não saberemos. Mas, o que sabemos é que a venda de mingau no entorno do comércio em Belém era antiga e muito comum no cotidiano das pessoas. Quem não lembra da venda de mingau descrita por Dalcídio Jurandir, em Santa Maria de Belém do Grão-Pará? Ele nos descreve a seguinte cena: "Ao chegarem ao Ver-o-Peso, lhe apeteceu uma tainha fresca e Alfredo via, então, uma nova cidade, agora sem Libânia, meio bruta, que lhe pedia dinheiro em troca de peixes, carnes, fruta verduras, panelas de mingau, prateleiras de cheiro, dentes de boto, línguas de pirarucu, cascas e raízes, defumações e ninhos de gavião coré contra mau olhado, quebranto, contra qualquer gênero de infelicidade".(2) Em minha tese eu discuto como o mingau de açaí aparece como um produto mestiçado.(3) No texto anterior, falamos da venda e comércio de bananas. O mingau de banana da terra, era um dos mais consumidos na região. Spix e Martius, referindo-se aos índios do Pará, em 1819, observaram que os índios preferiam a pupunha cozida ou assada: “O mingau, feito de pupunhas e, bananas misturadas, é o seu petisco predileto”.(4)O restante da cena, da fotografia, são o ir e vir de pessoas e mercadorias, era a vida acontececendo numa capital da Amazônia.
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💬 E você gosta de mingau? Qual prefere? Me conta.
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📚✍🏽Referências.
📸 Pierre Verger; 1948; Belem do Pará;
Publicado em 04/06/2012 por Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA
https://fauufpa.org/2012/06/04/belem-do-para-por-pierre-verger-1948/?amp=1
🔖 Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar.
(2) Dalcídio Jurandir, Belém do Grão Pará,
Livraria Martins: São Paulo, 1960. p. 46.
(3) Macêdo, Sidiana da Consolação Ferreira de. A Cozinha Mestiça uma história da alimentação em Belém. (Fins do século XIX e início do século XX). PPGHIST. UFPA,  2016. p. 77
http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/8849
(4) SPIX, Johann Baptiste Von & MARTIUS, Carl Friedrich Philippe von. Viagem pelo Brasil. (1817-1820). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1938, p. 165.

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