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Vendedor de Bananas na Feira do Ver-o-peso.

Na fotografia, um vendedor de bananas e suas freguesas estão rindo. Uma fotografia que foi tirada no momento certo. Existe uma conversa leve entre eles. Sobre que assunto falavam? Seria conversa de feirante-freguês, seria uma barganha no preço das bananas? Seria sobre um acontecimento na cidade? Essa foto é uma das minhas preferidas do Robert Pendleton. Tem muita poesia e conversa de maneira muito sensível com o observador. A foto como um todo sorri para todos nós.(1) Robert Larimore Pendleton, tinha uma sensibilidade única pra suas fotos. Esteve na Amazônia em 1949, foi botânico e professor de geografia na Johns Hopkins University. Viajou e trabalhou em várias partes do mundo. Deixou um legado de pesquisa importante. Fez várias fotos sobre o Ver-o-peso,  esse lugar único para o abastecimento da cidade de Belém. A fotografia nos mostra também um pouco da realidade das feiras em Belém. Corrêa Pinto, nos dizia sobre o Ver-o-peso que: "Pululam os vendedores, a apregoar curiosas mercadorias. Há ali um mundo de variadíssimos produtos (...)Cachos de bananas verdes. Melancias e Cajus côr de ouro e cor de púrpura". Assim, "Sob o sol escaldante, densa multidão acotovela-se, em atropelado vaivém. Êsse rio humano - feito de risadas, pilhérias e pregões- contorna, horas e horas, o vasto ancoradouro". (2) Dentre os vários tipos de vendedores estavam os de bananas. E aqui é importante dizer que a banana nestes recônditos amazônicos sempre foi fruta de todo dia, de dias "magros e gordos" como se dizia antigamente. Banana era parte importante do prato de nossas gentes. Quem não lembra do personagem Macário, de Inglês de Sousa, em O Missionário,, que: "(...) petiscara lume,fizera uma fogueirinha com ramos secos, e assara um naco de pirarucu, e umas bananas verdes". (3) Em outra passagem, "O professor Francisco Fidêncio Nunes despedira cedo os rapazes da classe de latim, os únicos que haviam afrontado o temporal; (...)  A caseira, (...) chamara-o para almoçar. Naquele dia podia oferecer-lhe uma boa posta de pirarucu fresco, e umas excelentes bananas-da-terra, que lhe mandara de presente a velha Chica da Beira do lago, cujo filho cursava gratuitamente as aulas do professor. A caseira, a Maria Miquelina, sabendo que o senhor professor não poderia comer as bananas cruas, por causa da dieta homeopática do Regalado, cozera-as muito bem em água e sal, preparara-as com manteiga e açúcar e pusera-as no prato, douradas e apetitosas".(4) As bananas, especialmente, as bananas da terra compunham parte do prato principal na Amazônia,acompanhava o "naco ou a boas posta de pirarucu" assada ou ainda "cozida em água e sal e frita na manteiga e açúcar " bem douradas e cheirosas. Eu consigo até sentir o cheiro daqui. Essa prática de fazer da banana também parte do prato principal era muito comum e parte da alimentação usual. Spix e Martius, em Breves, Pará, no ano de 1819, nos contavam que: "Um peixe qualquer, que o marido traz para casa, umas frutas do mato ou raízes, que a mulher colher além da farinha seca (...) e umas bananas do quintal (...) constituem a alimentação usual". (5) Os autores ainda, relatam sobre consumo da banana da terra quando de sua passagem por Parintins, Amazonas. No consumo diverso da banana da terra está na origem os  grupos indígenas. Assim nos falam os autores: "Aqui, como em todo Amazonas, é plantada a comprida pacova (...) indígena do Brasil, e que, sob o nome de banana da terra, se distinguem da banana de São Tomé (...) menor e arrendodada. A primeira é menos doce na verdade, mas também menos insossa (...) É preferida, entre as outras espécies, pelos índios, que sabem com ela preparar diversos manjares". (6) Na Amazônia,  a banana é fruta do cotidiano e acompanha as mais diversas refeições. Quem nunca comeu uma banana assada ou frita, com uma boa posta de pirarucu ou outro peixe, farinha e muita pimenta, não sabe o que é um verdadeiro manjar dos deuses.
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📚✍🏽 Referências.
📸 (1) Robert Larimore Pendleton. Belém, o berço da Amazônia Brasileira. Ano de 1949. 🔖 Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar.
(2) Corrêa Pinto. BELÉM (Imagens e Evocações) Rio de Janeiro, 1968. p. 40-41
(3) (4) O missionário, Inglês de Sousa
Fonte: SOUZA, Inglês de. O Missionário. 3ªEd. São Paulo: Ática,1992. p, 93; 19-20. Texto proveniente de:A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro <http://www.bibvirt.futuro.usp.br>
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo Permitido o uso apenas para fins educacionais.Texto-base digitalizado por:
Luciana Ávila Duarte.
(5) (6) SPIX, Johann Baptiste Von & MARTIUS, Carl Friedrich Philippe von. Viagem pelo Brasil. (1817-1820). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1938, p.112-176. 

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