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Beijú, beijus, beiju de cica...

Olá, leitores!

Um dos hábitos de nossa terra é o consumo do beiju com um bom café, aqui em casa, geralmente no fim de semana passamos na feira da Dr. Moraes e compro duas ou três sacolas recheadas de beiju de Cica esquento no forno, passo uma manteguinha e com uma xícara fumegante de café "a la Chico Fidêncio"*, faço a felicidade por aqui. Hoje meu post é sobre o Beiju!

O beiju é uma espécie de "bolacha" redonda (os meus quebraram na viagem); feito de massa de tapioca ou mandioca que vai ao forno e fica crocante, é regional e assim como alguns pratos a base de mandioca, tiveram suas origens nas tribos indígenas. O Beiju também era produzido no Nordeste, alguns relatos, datam da Bahia.  
Um dos primeiros relatos sobre o Beiju, está datado do século XVIII, quem o fez foi Fernão Cardim, por volta de 1583-1590. Cardim, era um jesuíta português, que chegou ao Brasil, em 1583 e esteve em vários estados, provavelmente este relato foi elaborado com base em sua vivencia na Bahia, onde ficou, mais havia semelhança na forma como era preparado aqui no Norte e dizia o seguinte: "Destas raízes [de mandioca] espremidas e raladas se faz farinha que se come; também se deita de molho até apodrecer, e depois limpa, espremida se faz também farinha, e uns certos beijús como filhós, muito alvos e mimosos. Essa mesma raiz  depois de curtida n'água feita com as mãos em pelouros se põe em caniçõs ao fumo, onde se enxuga e seca de maneira que se guarda sem corrupção quanto querem e raspada do fumo, pisadas em uns pilões grandes, e peneirada, fica uma farinha tão alva, e mais que trigo, da qual misturada em certa têmpera com a crua se faz uma farinha biscoitada que chamam de guerra, que serve aos índios e portugueses pelo mar, e quando vão à guerra como biscoito". p. 208*. 
Já no século XVIII, Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio, em sua viagem, a capitania do Rio Negro, enfatizava que; "É costume de todas as índias presentearem o ministro (...) com frutas das suas roças, com mandiocas, beijus, que é o pão feito dela". p. 208*. Esse relato, é do Amazonas, mas precisamente de 1774.
O costume do consumo do beiju continuou ao longo dos séculos XIX, XX e XXI. Todavia, hoje pelo menos aqui na capital do Pará, ele não é consumido todos os dias e com a variedade de pães e outros que a vida moderna nos traz, ele também não é consumido em larga escala. A meu ver, o beiju é consumido nos finais de semana e não cotidianamente. As pessoas, não o consomem todos os dias, como era feito nos séculos passados, em especial, no XVII e XVIII, até porque naquela época não se tinha outras opções então ele assumia uma importância cotidiana na mesa das pessoas. Em primeiro lugar, porque no caso dos índios era cultural, fazia parte da sua alimentação, em segundo lugar, para os colonos era necessidade, muitos não gostavam do beiju e derivados da mandioca, comiam porque não havia pães a base de trigo como na Europa. Então para eles não era gosto era necessidade. 
Pra mim é acima de tudo memória gustativa. Eu adoro um Beiju bem torradinho com uma fina camada de manteiga e um bom café com leite! Ah...mais pesa meu hábito, minhas memórias e acima de tudo minha terra.

*Chico Fidêncio era um personagem de Inglês de Sousa, no livro o Missionário, Chico adorava uma boa comida, bem regional. 
*ACAYABA, Marlene Milan (org). Equipamentos, usos e costumes da Casa Brasileira. São Paulo: Museu da Casa Brasileira, 2000. 

Comentários

  1. Comprei hoj na feira da Batista Campos e encontrei essa postagem buscando os valores nutricionais do beiju e não encontrei mas acredito que deva ser quase o mesmo que farinha de mandioca. Uma delicia, já estou quase acabando o pacote e olha que eu comi a primeira vez há quase trinta anos....Abraços.

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    Respostas
    1. Oi Laila, tudo bem?
      Seja bem-vinda ao Daquilo que se come!
      Eu amo! Esse da feira da Batista Campos é uma delícia, um dos melhores. Experimente, passar manteiga e levar ao forno, cerca de 10 minutinhos. Depois, me conte o que achou! beijos.

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  2. A receita passo a passo com os ingredientes seria possível postar? Pois a pesquisa na internet faz só referências e não há um vídeo ou post completo sobre o beiju cica crocante como o que você mencionou e provei em Belém. Divino!

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    Respostas
    1. Oi, Eduardo!
      A receita não tenho. Esses beijus chegam dos interiores para venda, geralmente são feitos em fornos próprios onde fazem farinha de mandioca. Daí você não encontrar a receita e videos sobre a sua elaboração. São parte importante de nossa culinária, compõem nossa identidade alimentar. Um abraço!

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