Por esses dias pensei muito nas memórias gustativas que estou "criando" nas memórias de Marji, quais os sabores ela vai lembrar de nossa casa, da mãe cozinhando e da alegria que sentiu em cada garfada? Qual será sua preferida? Será se junto com o sabor ela vai lembrar da mesa posta? Dos detalhes das louças? Pensei muito em como um sabor, aquele que fica na nossa memória e que associamos ao afeto vivido se enraiza em nós de tal forma que como nos fala Proust tornam-se NÓS! Como os sabores que compõem a nossa memoria afetiva podem "opera o amor, enchendo-me de uma essência preciosa; ou antes, essa essência não estava em mim, ela era eu. (1) Proust,desenvolveu uma relação tão forte com suas memórias afetivas em torno da Alimentação que levou aos seus escritos. Em seu clássico, Em Busca do Tempo perdido, tem uma passagem que descreve de forma tão perfeita como os sabores e as memórias afetivas surgidas em torno deles compõem quem somos: "Quando num dia de inverno, chegando eu em casa, minha mãe,vendo-me com frio, propôs que tomasse, contra meus hábitos, um pouco de chá. A princípio recusei e, nem sei bem porque, acabei aceitando. Ela então mandou buscar um desses biscoitos curtos e rechonchudos chamados madeleínes (...)levei à boca uma colherada de chá onde deixara amolecer um pedaço da madeleíne. Mas no mesmo instante em que esse gole, misturado com os farelos do biscoito, tocou meu paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, (...) E de súbito a lembrança me apareceu. Aquele gosto era o do pedacinho de madeleine que minha tia Léonie me dava aos domingos pela manhã em Combray (...), quando ia lhe dar bom-dia no seu quarto, depois de mergulhá-lo em sua infusão de chá ou de tília (...) Mas, quando nada subsiste de um passado antigo, depois da morte dos seres persistentes, mais fiéis, o aroma e o sabor permanecem ainda por muito tempo, como almas,chamando-se, ouvindo, esperando, sobre as ruínas de tudo o mais, levando sem se submeterem,sobre suas gotículas quase impalpáveis, o imenso edifício das recordações.(2) Então, entedi a máxima de que a cozinha nos permite criar memórias imortais.
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Referências.
🎨Oscar-Claude Monet pintor francês. Género: natureza-morta. Título: The Tea Service oil on canvas painting by Claude Monet, 1872. Técnica: Óleo sobre tela. Local: Dallas Museum of Art. 🔖 Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar.
(1) (2) PROUST, Marcel. Em Busca do Tempo Perdido. No caminho de Swann. Combray. Volume 1. Tradução Fernando Py. p. 27; 28; 29.
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Referências.
🎨Oscar-Claude Monet pintor francês. Género: natureza-morta. Título: The Tea Service oil on canvas painting by Claude Monet, 1872. Técnica: Óleo sobre tela. Local: Dallas Museum of Art. 🔖 Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar.
(1) (2) PROUST, Marcel. Em Busca do Tempo Perdido. No caminho de Swann. Combray. Volume 1. Tradução Fernando Py. p. 27; 28; 29.
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