E que tal uma receita pra se deliciar?
E quando essa receita é histórica, da primeira metade do século XX e super fácil de fazer? É certeza de feitura! Hoje temos mais uma receitinha do livro da tia Evelina, as mães-bentas especiais! Segundo Orico, na cidade de Belém, na época da sua infância, por volta de 1912, (1) ele afirma: “como esquecer dos nossos tempos de criança, aquelas doceiras que vinham de porta em porta com seus tabuleiros e cestas de quindins, mãe-bentas e rebuçados de cupuaçu”.(2)Fazendo parte da culinária paraense, o doce de tradição portuguesa chamado de mãe-benta, ao que tudo indica, era bem conhecido na cidade. A sua receita, uma das poucas encontradas na minha pesquisa, foi publicada na coluna Receituário da Mãe de Família, em 29 de janeiro de 1897: "Mãe Bentas. - 700 grammas de fubá de arroz, 340 grammas de assucar, 340 grammas de manteiga, 11 gemas de ovos, ½ calix de cognac. Lava-se o arroz em duas ou tres águas e deita-se n’uma peneira para escorrer a água; depois vae-se socando e passando por uma peneira bem fina de arame. Põe-se depois a farinha dentro de um alguidar(3) e mistura-se com assucar; em seguida deita-se a manteiga bem lavada e escorrida, e (...) vae-se juntando as gemmas de ovos, uma a uma, mexendo-as sempre, e por fim mistura-se o cognac. Forram-se as fôrmas pequenas com folhas de bananeiras ou com caixinhas de papel".(4)Na receita que aparece no Receituário da mãe de família, em 1897, no jornal a Província do Pará, as quantidades são maiores, provavelmente porque estes doces também poderiam ser vendidos por doceiras. Por sua vez, a receita do livro daTia Evelina, com uma diferença de tempo de 51 anos depois, ao que parece, era dirigida para o consumo da casa, razão provável para uma quantidade menor de ingredientes. Ao passo que a receita do jornal de Belém, apesar de também ser destinada às mães de família, trazia elementos que nos levam a pensar que poderia também ser útil para quem quisesse ganhar e vender tais doces, ou utilizá-los em dias festivos e fazia uso do creme de arroz, que naquela ocasião poderia provavelmente ser comprado pronto. Não aparece o cognac e bem o uso das folhas de bananeiras, mas, forminhas untadas com manteiga. (5) A receita da tia Evelina é deliciosa, macia e pra tomar com uma xícara de café é simplesmente um presente ao paladar! E você já comeu as mães-bentas?
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Referências.
(1) Sobre as memórias do menino Orico ver: FIGUEIREDO, Aldrin Moura. Memórias da infância na Amazônia. In: DEL PRIORE, Mary (Org.). Histórias das crianças no Brasil. São
Paulo: Contexto, 2013, p. 340.
(2) ORICO, Osvaldo. Cozinha Amazônica: uma autobiografia do paladar. Belém: Universidade
Federal do Pará, 1972, p. 61, 62.
(3)Alguidar- “Recipiente de barro ou metal, baixo, com diversos usos domésticos. De origem árabe, é também conhecido por ababá”. GOMENSORO, op. cit., p. 23. E ainda, no livro do Dicionário do Doceiro Brasileiro traz a seguinte descrição: “ALGUIDAR: do árabe al-guidar. Utensílio de barro cuja boca é maior que a altura; usado em processos culinários”. REGO, op. cit., p. 310.
(4)A Província do Pará, 29 de janeiro de 1897, p. 2. (5)MACÊDO, Sidiana da Consolação Ferreira de. A Cozinha Mestiça uma história da Alimentação em Belém fins do século XIX. Programa de Pós graduação em História social da Amazônia. UFPA. 2016. Cap. II.
E quando essa receita é histórica, da primeira metade do século XX e super fácil de fazer? É certeza de feitura! Hoje temos mais uma receitinha do livro da tia Evelina, as mães-bentas especiais! Segundo Orico, na cidade de Belém, na época da sua infância, por volta de 1912, (1) ele afirma: “como esquecer dos nossos tempos de criança, aquelas doceiras que vinham de porta em porta com seus tabuleiros e cestas de quindins, mãe-bentas e rebuçados de cupuaçu”.(2)Fazendo parte da culinária paraense, o doce de tradição portuguesa chamado de mãe-benta, ao que tudo indica, era bem conhecido na cidade. A sua receita, uma das poucas encontradas na minha pesquisa, foi publicada na coluna Receituário da Mãe de Família, em 29 de janeiro de 1897: "Mãe Bentas. - 700 grammas de fubá de arroz, 340 grammas de assucar, 340 grammas de manteiga, 11 gemas de ovos, ½ calix de cognac. Lava-se o arroz em duas ou tres águas e deita-se n’uma peneira para escorrer a água; depois vae-se socando e passando por uma peneira bem fina de arame. Põe-se depois a farinha dentro de um alguidar(3) e mistura-se com assucar; em seguida deita-se a manteiga bem lavada e escorrida, e (...) vae-se juntando as gemmas de ovos, uma a uma, mexendo-as sempre, e por fim mistura-se o cognac. Forram-se as fôrmas pequenas com folhas de bananeiras ou com caixinhas de papel".(4)Na receita que aparece no Receituário da mãe de família, em 1897, no jornal a Província do Pará, as quantidades são maiores, provavelmente porque estes doces também poderiam ser vendidos por doceiras. Por sua vez, a receita do livro daTia Evelina, com uma diferença de tempo de 51 anos depois, ao que parece, era dirigida para o consumo da casa, razão provável para uma quantidade menor de ingredientes. Ao passo que a receita do jornal de Belém, apesar de também ser destinada às mães de família, trazia elementos que nos levam a pensar que poderia também ser útil para quem quisesse ganhar e vender tais doces, ou utilizá-los em dias festivos e fazia uso do creme de arroz, que naquela ocasião poderia provavelmente ser comprado pronto. Não aparece o cognac e bem o uso das folhas de bananeiras, mas, forminhas untadas com manteiga. (5) A receita da tia Evelina é deliciosa, macia e pra tomar com uma xícara de café é simplesmente um presente ao paladar! E você já comeu as mães-bentas?
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Referências.
(1) Sobre as memórias do menino Orico ver: FIGUEIREDO, Aldrin Moura. Memórias da infância na Amazônia. In: DEL PRIORE, Mary (Org.). Histórias das crianças no Brasil. São
Paulo: Contexto, 2013, p. 340.
(2) ORICO, Osvaldo. Cozinha Amazônica: uma autobiografia do paladar. Belém: Universidade
Federal do Pará, 1972, p. 61, 62.
(3)Alguidar- “Recipiente de barro ou metal, baixo, com diversos usos domésticos. De origem árabe, é também conhecido por ababá”. GOMENSORO, op. cit., p. 23. E ainda, no livro do Dicionário do Doceiro Brasileiro traz a seguinte descrição: “ALGUIDAR: do árabe al-guidar. Utensílio de barro cuja boca é maior que a altura; usado em processos culinários”. REGO, op. cit., p. 310.
(4)A Província do Pará, 29 de janeiro de 1897, p. 2. (5)MACÊDO, Sidiana da Consolação Ferreira de. A Cozinha Mestiça uma história da Alimentação em Belém fins do século XIX. Programa de Pós graduação em História social da Amazônia. UFPA. 2016. Cap. II.
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