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Livros de Receitas e a cultura alimentar árabe.

Você sabia que um dos livros mais antigos de receitas tem origensem Bagdá? E que vários costumes a mesa chegam e que chegam a Europa vêm do mundo muçulmano? Um exemplo dessa realidade descrita por Miller é o Ziryab, um costume elegante no mundo muçulmano: "(...) o jantar começava com sopa, seguida de peixe e, depois, ave ou carne e sobremesas, por fim, um pequeno prato de pistache ou amêndoas". Em outras palavras, um estilo de jantar que persiste até hoje, da sopa às nozes.(1) Assim, o “Ziryab é o exemplo mais espetacular de um processo que espalhou os pratos e hábitos culinários de Bagdá para o resto do Islã e depois para a Europa, onde as variações regionais desses mesmos pratos são servidas até hoje”.(2) Essa discussão também se faz importante tendo em vista como os sabores e hábitos alimentares estão em constante movimento e circularidade, lembrando aqui de Ginzburg.* Já nos séculos IX e X, os livros de culinária muçulmanos eram de grande popularidade no mundo árabe. Segundo Miller, houve por este momento um nascimento da culinária islâmica medieval, considerando ainda que “em virtude do alto nível de especialização em Bagdá, os livros de culinária e etiqueta eram extremamente populares”.(3)Tal realidade em parte, como demonstra Miller, ocorre em virtude da posição de importante centro comercial que Bagdá ocupava naquele momento: “Bagdá medieval estava situada no movimentado centro de um vibrante mundo islâmico que se estendia desde o rio Indo até o oceano Atlântico. Por esse centro passava uma profusão de comidas exóticas e de tradições culinárias, influenciando o que era consumido e como era consumido”(4)
O mais antigo livro de cozinha da culinária bagdali, datado do século X e escrito
por Ibn Sayyar al-Warraq, e intitulado Kitãb al-tabîkh (Livro de Culinária), é segundo Miller o mais antigo de qualquer idioma, sendo uma listagem de alimentos, pratos, bebidas, utensílios culinários, ingredientes e receitas. (5)Já o segundo livro bagdali, escrito por volta de 1226 por Muhammad al- Khatib al-Baghdadi, intitulado Kitãb al-takîkh, em relação ao outro é mais especifico tanto nos ingredientes como nas formas de preparo, trazendo os sabores da Bagdá Medieval. Composto por 164 receitas ou pratos, reproduz uma alta cozinha da cidade do califa. Teve também maior circulação e várias
reproduções.
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Na imagem uma refeição comunitária de frango assado é comido com os dedos da mão.
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Referências.
📸 Biblioteca Britânica, Londres. In: MILLER, H. D. Os prazeres do consumo: o nascimento da culinária islâmica medieval. In: FREEDMAN, Paul (Org.). A história do sabor. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009, p. 138. 🔖 Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar. (1) (2) (3) (4) (5) MILLER, H. D. Os prazeres do consumo: o nascimento da culinária islâmica medieval. In: FREEDMAN, Paul (Org.). A história do sabor. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009, p. 143-144-145 -148. *GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição. Tradução: Maria Betania Amoroso, - São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

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