O que era ser padeiro em Belém no século XX? Como eram as condições de trabalho em meados do XX? Os pães eram vendidos nas ruas de porta em porta, carregados em cestos pelos padeiros, sendo prática comum desde o século XIX. Em 25 de junho de 1883, por exemplo, o Diário do Gram-Pará publicou o seguinte anúncio: “Attenção dos padeiros. Chegaram para a loja Veado Branco, de Carreiro & Comp. um grande sortimento de cestas de vime, próprias para conduzir pão e que se vende muito barato”.(1) Os padeiros então, não só trabalhavam no interior das padarias, fazendo o pão, mas saíam com balaios cheios de pães vendendo nas ruas e nas portas das casas. No século XX, segundo a historiadora Edilza Fontes “O padeiro saía com um balaio grande e outro pequeno, levando quase sempre o filho como uma forma de aprendizagem da profissão”.(2) Fontes, em seu trabalho sobre os trabalhadores e a indústria de panificação em Belém entre 1940-1954, destaca que as condições de trabalho nas padarias eram bastante insalubres. Segundo a autora: “a maioria dos trabalhadores morava nas padarias em quartos sujos e mal arejados. O horário de trabalho era longo, com pouco tempo para o descanso. A jornada de trabalho começava às 18h e ia até às 12h do outro dia”. (3)A autora ainda enfatiza que essas situações faziam com que os trabalhadores vissem seu patrão como explorador e que muitos trabalhadores se utilizavam do seu ofício como moeda de
barganha e sempre tentavam tirar proveito próprio em suas relações. Fosse levando consigo a sua freguesia, sabotando o trabalho ou ainda utilizando restos de massa para fabricar biscoitinhos que vendiam numa forma de aumentara renda eram os chamados “biscates”. (4) Tal situação favorecia o poder de coerção do panificador sobre seus trabalhadores, uma vez que regulava os horários e a disciplina dentro das padarias. Sobre trabalhadores que viviam no local de trabalho, Cancela nos informa que “comumente, encontram-se situações em que os empregados de um estabelecimento comercial residiam no mesmo local em que trabalhavam. (Cont. Comentários) ✍🏽👇🏿
Geralmente, as firmas funcionavam em prédios assobrabados, cujos altos possuíam quartos onde residiam os empregados, particularmente os solteiros” a exemplo, os casos dos padeiros Mariano e Gonçalo “ambos solteiros e estrangeiros,
este português e aquele espanhol. Os dois trabalhavam e residiam na padaria à travessa São Pedro, de propriedade de um cearense, Cosme, igualmente solteiro”(5). Em 1950, o jornal Folha do Norte noticiava que continuava o fabrico noturno de pão em algumas padarias da Capital.(6) Importante perceber assim como o trabalho de padeiro era complexo e possibilita muitas leituras e análises ao historiador. O universo de fazer o pão era permeado de trocas, barganhas e resistências entre patrões e trabalhadores.
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Referências.
📸 "Um padeiro parisiense em 1906. In: acob, Heinrich Eduard. Seis mil anos de Pão. Trad. José M. Justo. São Paulo: Nova Alexandria, 2003. 🔖 Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar.
(1) Cf. Diário do Gram-Pará, 25 de junho de 1883, p. 3.(2) FONTES, Edilza Joana de Oliveira. O pão nosso de cada dia: trabalhadores e indústria da panificação e a legislação trabalhista. (Belém 1940-1954). Belém, 1° ed, Paka-Tatu, 2003, p. 47.
(3) (4)FONTES, op. cit, p. 79.
(5) CANCELA. Cristina Donza. Casamento e família em uma capital amazônica: (Belém 1870-1920). Belém: Ed. Açaí, 2011, p. 129.
(6) Folha do Norte, 19 de abril de 1950, p. 1.
barganha e sempre tentavam tirar proveito próprio em suas relações. Fosse levando consigo a sua freguesia, sabotando o trabalho ou ainda utilizando restos de massa para fabricar biscoitinhos que vendiam numa forma de aumentara renda eram os chamados “biscates”. (4) Tal situação favorecia o poder de coerção do panificador sobre seus trabalhadores, uma vez que regulava os horários e a disciplina dentro das padarias. Sobre trabalhadores que viviam no local de trabalho, Cancela nos informa que “comumente, encontram-se situações em que os empregados de um estabelecimento comercial residiam no mesmo local em que trabalhavam. (Cont. Comentários) ✍🏽👇🏿
Geralmente, as firmas funcionavam em prédios assobrabados, cujos altos possuíam quartos onde residiam os empregados, particularmente os solteiros” a exemplo, os casos dos padeiros Mariano e Gonçalo “ambos solteiros e estrangeiros,
este português e aquele espanhol. Os dois trabalhavam e residiam na padaria à travessa São Pedro, de propriedade de um cearense, Cosme, igualmente solteiro”(5). Em 1950, o jornal Folha do Norte noticiava que continuava o fabrico noturno de pão em algumas padarias da Capital.(6) Importante perceber assim como o trabalho de padeiro era complexo e possibilita muitas leituras e análises ao historiador. O universo de fazer o pão era permeado de trocas, barganhas e resistências entre patrões e trabalhadores.
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Referências.
📸 "Um padeiro parisiense em 1906. In: acob, Heinrich Eduard. Seis mil anos de Pão. Trad. José M. Justo. São Paulo: Nova Alexandria, 2003. 🔖 Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar.
(1) Cf. Diário do Gram-Pará, 25 de junho de 1883, p. 3.(2) FONTES, Edilza Joana de Oliveira. O pão nosso de cada dia: trabalhadores e indústria da panificação e a legislação trabalhista. (Belém 1940-1954). Belém, 1° ed, Paka-Tatu, 2003, p. 47.
(3) (4)FONTES, op. cit, p. 79.
(5) CANCELA. Cristina Donza. Casamento e família em uma capital amazônica: (Belém 1870-1920). Belém: Ed. Açaí, 2011, p. 129.
(6) Folha do Norte, 19 de abril de 1950, p. 1.
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