O desenho realizado por Debret "representa o interior de uma padaria, cujo arranjo se reproduz exatamente em todosos estabelecimentos destinados a esse ramo de comércio. À direita, está o grande armário de funil. São sete horas da manhã e os negros do padeiro, reunidos em torno de uma mesa no fundo da padaria, descascam o trigo recém-desembarcado, uma parte do qual se percebe no surrão postono chão. Um negrinho (...) acaba de encher um saco com a provisão de pão destinada aos seus senhores, enquanto um moleque e uma negra compram o pãozinho de um vintém, alimento indispensável para o desjejum". (1) Segundo Debret, "o uso generalizado da farinha de mandioca, em vez da de trigo, fez da profissão de padeiro, no Brasil, uma indústria de luxo". (2) No século XIX, no Brasil, a fabricação e venda de pães pelas ruas era realizada muitas vezes por escravizados. Na cidade de Belém, os padeiros além de fazerem o pão ainda vendiam de porta em porta. Nesse sentido, "Embora havendo a venda de produtos no próprio local, padeiros ou empregados das padarias saíam as ruas vendendo os produtos em tabuleiros nas próprias vias públicas". (3)
Ainda que não fosse reduto "exclusivo de trabalhadores escravizados, havendo homens livres ou quem sabe libertos exercendo a profissão, vemos então que era ofício também feito por cativos, a quem inclusive se podia ensinar. Afinal se aprendia a ser padeiro trabalhando na padaria".(5) Lugar de trabalho predominantemente masculinizado, o exercício da profissão de padeiro estaria vedado para as mulheres. Mas, é importante dizer que era também lugar de resistência já que nas padarias em que trabalhavam os escravizados, de lá também podiam fugir, a exemplo, do escravizado Raimundo, 29 anos, alto e magro...
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Se você quer saber mais sobre a história de Raimundo recomendo a leitura do meu artigo escrito com José Maia Bezerra Neto, cuja referência completa está nos comentários.
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Referências.
(1) (2) Debret, apud in: Debret e o Brasil. Obra Completa (org)Julio Bandeira e Pedro Corrêa do Lago. Capivara, 2013. p. 197. 🔖Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar. (3) (4) (5) Macêdo, Sidiana da Consolação Ferreira de Macêdo; Bezerra Neto, José Maia. Escravos de forno e fogão-A cozinha da Escravidão e práticas alimentares em Belém (séc. XIX) In: Escravidão urbana e abolicionismo no Grão-Pará (séc XIX) org. José Maia Bezerra Neto, Luiz Carlos Laurindo Junior. 1ed. Jundiaí SP:Paco Editorial, 2020. p. 163; 164; 165; 166.
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